Lisboa leva a "escrita no
feminino" à Feira do Livro de Buenos Aires
A participação de Lisboa como cidade convidada de honra da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, uma ideia que surgiu inesperadamente à mesa de um café, vai ter como foco principal as mulheres escritoras jovens.
A presença de Lisboa como cidade convidada de honra da 48.ª edição daquele certame literário argentino foi apresentada oficialmente na quarta-feira nos Paços do Concelho, em Lisboa.
Apesar de a programação ainda estar a ser elaborada, há uma ideia que está firmada e acompanha os organizadores desde o início: “Incentivar ou valorizar mais a escrita no feminino, por escritoras, e por escritoras mais novas, escritoras que estão a aparecer”, disse aos jornalistas Carla Quevedo, curadora da feira.
“Mas não só. Evidentemente que temos atenção a escritoras que são já consagradas, mas sobretudo a mulheres que não aparecem tanto, e vemo-lo nas listas de escolhas. Quando perguntam uma opinião, não perguntam quase nunca a mulheres. As capas são muitas vezes com fotografias de homens e, portanto, é altura de dar visibilidade a pessoas que também estão presentes no panorama literário e que são mulheres”, considerou.
Questionada sobre se esta opção vai deixar os escritores de fora ou se alguns também estarão presentes, Carla Quevedo respondeu que haverá convidados homens, mas deixou claro que não serão a prioridade.
“A mim acontece-me ao contrário, tenho que pensar para incluir escritores homens. Às vezes tenho uma lista de dez nomes e todos são mulheres e penso: ‘Como é que fazem as listas, que nunca pensam em mulheres?’. Talvez essas listas não sejam feitas por mulheres”, acrescentou.
Quanto à programação, apesar de não estar ainda definida, há um objetivo claro, que é o de “mostrar uma programação diversa, com este foco no feminino, e que terá sobretudo muitas conversas, autores em conversa uns com os outros”, possivelmente com alguns autores argentinos
“Mas o que se pretende é que seja um encontro vivo, interessante e estimulante”, sublinhou, acrescentando que um dos “objetivos é que os autores portugueses tenham visibilidade ao ponto de suscitarem curiosidade para serem traduzidos na Argentina”.
O ‘stand’ de Lisboa terá uma livraria, com livros em português e em espanhol, e haverá ainda espaço para programação de música e de exposições.
O diretor da Feira, Ezequiel Martinez, está em sintonia com a curadora nesta ideia de dar palco às “novas gerações de autores e autoras, que são mais difíceis de conhecer noutros países e noutras línguas” e sublinha que este “é um dos pontos-chave”.
Para o responsável é importante que a feira do livro de Buenos Aires “seja a voz de mulheres”.
Recordando que durante muito tempo as mulheres escritoras tiveram dificuldade em sobressair, na História da Literatura em todo o mundo, Ezequiel Martinez apontou que agora se estão a redescobrir essas autoras, “que na altura não estavam à altura de serem reconhecidas como os homens”.
Por isso, considera que “a presença de Portugal com esta premissa é muito valiosa”.
Do final desta participação portuguesa, o diretor da feira espera que resultem novas traduções de autores portugueses para espanhol, lembrando que “há um mercado de tradutores muito importantes na América Latina”.
“Saramago e Pessoa são os autores mais reconhecidos. Esperamos que isto sirva para que outros autores emergentes sejam conhecidos e publicados, não só na Argentina, mas em toda a América Latina”.
Questionado sobre a razão da escolha de Lisboa para ser a cidade convidada de honra da feira em 2024, Ezequiel Martinez, confessou que foi “uma coisa de entusiasmo”.
O diretor da feira contou que trabalhou muitos anos com Alberto Manguel, quando este era diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, e que na altura conheceu João Ribeirete, diretor do Instituto Camões na Argentina.
“Um dia, estávamos a tomar um café e surgiu: ‘Porque não fazemos de Lisboa a cidade convidada de honra da feira do livro de Buenos Aires?’. Assim, quase sem pensar, a falar de autores para levar à feira. E foi aí que começou”, revelou, entre risos.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, presente na cerimónia afirmou o propósito de marcar presença na Feira do Livro de Buenos Aires, “através desta cidade aberta que é Lisboa”, uma cidade de “pluralismo e diversidade”, mas também de “dar visibilidade aos autores e dar visibilidade às mulheres, que são uma força grande na literatura portuguesa”.
A Feira do Livro de Buenos Aires vai decorrer de abril a maio de 2024, na mesma altura em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, como fez questão de assinalar o presidente da autarquia.
Na cerimónia de hoje estiveram ainda presentes o vereador da Cultura, Diogo Moura, e o presidente da Fundação El Libro, Alejandro Vaccaro, entidade que promove o evento.
A Feira do Livro de Buenos Aires, fundada em 1975, sob o lema “O livro, do autor ao leitor”, é a 5.ª maior feira do livro do mundo e a 3.ª maior da América Latina, recebendo anualmente cerca de 1 milhão de visitantes.
Esta feira tem como particularidade homenagear cidades ao invés de países, como é comum noutros eventos literários, e divide-se em várias secções sobre editoras, literatura, educação, lazer e arte, desenvolvendo ainda um programa cultural paralelo.”
50 Anos do 25 de abril: Livro inédito de Lawrence S. Graham sobre militares apresentado no Fólio
"O livro “As Forças Armadas Portuguesas e o Estado”, do norte-americano Lawrence S. Graham, até agora inédito em Portugal, vai ser apresentado no sábado, no Fólio — Festival Literário Internacional de Óbidos.
Escrito pelo politólogo norte-americano Lawrence S. Graham (1936-2023), professor na Universidade do Texas, Austin, durante 45 anos, a obra foi publicada nos Estados Unidos em 1993 e é considerada “um livro pioneiro sobre os militares e a consolidação da democracia portuguesa”, segundo a editora Tinta-da-China.
“As Forças Armadas Portuguesas e o Estado” é o terceiro volume da coleção “O 25 de Abril visto de fora”, uma iniciativa da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril em parceria com a Tinta-da-China.
A obra será apresentada no sábado numa mesa-redonda com António Costa Pinto, coordenador da coleção e investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Bárbara Bulhosa, editora da Tinta-da-China, Maria Inácia Rezola, comissária executiva das comemorações, Luís Nuno Rodrigues, professor do Departamento de História do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, e Telmo Faria, historiador, de acordo com um comunicado da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril.
Está ainda previsto, para sábado, um debate, sob o título “Capitães em Movimento: memórias da Guerra Colonial e da conspiração”, moderado pelo jornalista Mário Galego, com os coronéis Jorge Golias e Nuno Santos Silva e o comandante Pedro Lauret, que vão partilhar as suas memórias sobre os anos finais da ditadura.
A participação de Lisboa como cidade convidada de honra da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, uma ideia que surgiu inesperadamente à mesa de um café, vai ter como foco principal as mulheres escritoras jovens.
A presença de Lisboa como cidade convidada de honra da 48.ª edição daquele certame literário argentino foi apresentada oficialmente na quarta-feira nos Paços do Concelho, em Lisboa.
Apesar de a programação ainda estar a ser elaborada, há uma ideia que está firmada e acompanha os organizadores desde o início: “Incentivar ou valorizar mais a escrita no feminino, por escritoras, e por escritoras mais novas, escritoras que estão a aparecer”, disse aos jornalistas Carla Quevedo, curadora da feira.
“Mas não só. Evidentemente que temos atenção a escritoras que são já consagradas, mas sobretudo a mulheres que não aparecem tanto, e vemo-lo nas listas de escolhas. Quando perguntam uma opinião, não perguntam quase nunca a mulheres. As capas são muitas vezes com fotografias de homens e, portanto, é altura de dar visibilidade a pessoas que também estão presentes no panorama literário e que são mulheres”, considerou.
Questionada sobre se esta opção vai deixar os escritores de fora ou se alguns também estarão presentes, Carla Quevedo respondeu que haverá convidados homens, mas deixou claro que não serão a prioridade.
“A mim acontece-me ao contrário, tenho que pensar para incluir escritores homens. Às vezes tenho uma lista de dez nomes e todos são mulheres e penso: ‘Como é que fazem as listas, que nunca pensam em mulheres?’. Talvez essas listas não sejam feitas por mulheres”, acrescentou.
Quanto à programação, apesar de não estar ainda definida, há um objetivo claro, que é o de “mostrar uma programação diversa, com este foco no feminino, e que terá sobretudo muitas conversas, autores em conversa uns com os outros”, possivelmente com alguns autores argentinos
“Mas o que se pretende é que seja um encontro vivo, interessante e estimulante”, sublinhou, acrescentando que um dos “objetivos é que os autores portugueses tenham visibilidade ao ponto de suscitarem curiosidade para serem traduzidos na Argentina”.
O ‘stand’ de Lisboa terá uma livraria, com livros em português e em espanhol, e haverá ainda espaço para programação de música e de exposições.
O diretor da Feira, Ezequiel Martinez, está em sintonia com a curadora nesta ideia de dar palco às “novas gerações de autores e autoras, que são mais difíceis de conhecer noutros países e noutras línguas” e sublinha que este “é um dos pontos-chave”.
Para o responsável é importante que a feira do livro de Buenos Aires “seja a voz de mulheres”.
Recordando que durante muito tempo as mulheres escritoras tiveram dificuldade em sobressair, na História da Literatura em todo o mundo, Ezequiel Martinez apontou que agora se estão a redescobrir essas autoras, “que na altura não estavam à altura de serem reconhecidas como os homens”.
Por isso, considera que “a presença de Portugal com esta premissa é muito valiosa”.
Do final desta participação portuguesa, o diretor da feira espera que resultem novas traduções de autores portugueses para espanhol, lembrando que “há um mercado de tradutores muito importantes na América Latina”.
“Saramago e Pessoa são os autores mais reconhecidos. Esperamos que isto sirva para que outros autores emergentes sejam conhecidos e publicados, não só na Argentina, mas em toda a América Latina”.
Questionado sobre a razão da escolha de Lisboa para ser a cidade convidada de honra da feira em 2024, Ezequiel Martinez, confessou que foi “uma coisa de entusiasmo”.
O diretor da feira contou que trabalhou muitos anos com Alberto Manguel, quando este era diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, e que na altura conheceu João Ribeirete, diretor do Instituto Camões na Argentina.
“Um dia, estávamos a tomar um café e surgiu: ‘Porque não fazemos de Lisboa a cidade convidada de honra da feira do livro de Buenos Aires?’. Assim, quase sem pensar, a falar de autores para levar à feira. E foi aí que começou”, revelou, entre risos.
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, presente na cerimónia afirmou o propósito de marcar presença na Feira do Livro de Buenos Aires, “através desta cidade aberta que é Lisboa”, uma cidade de “pluralismo e diversidade”, mas também de “dar visibilidade aos autores e dar visibilidade às mulheres, que são uma força grande na literatura portuguesa”.
A Feira do Livro de Buenos Aires vai decorrer de abril a maio de 2024, na mesma altura em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, como fez questão de assinalar o presidente da autarquia.
Na cerimónia de hoje estiveram ainda presentes o vereador da Cultura, Diogo Moura, e o presidente da Fundação El Libro, Alejandro Vaccaro, entidade que promove o evento.
A Feira do Livro de Buenos Aires, fundada em 1975, sob o lema “O livro, do autor ao leitor”, é a 5.ª maior feira do livro do mundo e a 3.ª maior da América Latina, recebendo anualmente cerca de 1 milhão de visitantes.
Esta feira tem como particularidade homenagear cidades ao invés de países, como é comum noutros eventos literários, e divide-se em várias secções sobre editoras, literatura, educação, lazer e arte, desenvolvendo ainda um programa cultural paralelo.”
50 Anos do 25 de abril: Livro inédito de Lawrence S. Graham sobre militares apresentado no Fólio
"O livro “As Forças Armadas Portuguesas e o Estado”, do norte-americano Lawrence S. Graham, até agora inédito em Portugal, vai ser apresentado no sábado, no Fólio — Festival Literário Internacional de Óbidos.
Escrito pelo politólogo norte-americano Lawrence S. Graham (1936-2023), professor na Universidade do Texas, Austin, durante 45 anos, a obra foi publicada nos Estados Unidos em 1993 e é considerada “um livro pioneiro sobre os militares e a consolidação da democracia portuguesa”, segundo a editora Tinta-da-China.
“As Forças Armadas Portuguesas e o Estado” é o terceiro volume da coleção “O 25 de Abril visto de fora”, uma iniciativa da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril em parceria com a Tinta-da-China.
A obra será apresentada no sábado numa mesa-redonda com António Costa Pinto, coordenador da coleção e investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Bárbara Bulhosa, editora da Tinta-da-China, Maria Inácia Rezola, comissária executiva das comemorações, Luís Nuno Rodrigues, professor do Departamento de História do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, e Telmo Faria, historiador, de acordo com um comunicado da Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril.
Está ainda previsto, para sábado, um debate, sob o título “Capitães em Movimento: memórias da Guerra Colonial e da conspiração”, moderado pelo jornalista Mário Galego, com os coronéis Jorge Golias e Nuno Santos Silva e o comandante Pedro Lauret, que vão partilhar as suas memórias sobre os anos finais da ditadura.
Nota
Na sua oitava edição, o Folio conta com um total de 603 autores e criadores, em cerca de 108 conversas e tertúlias, 40 apresentações e lançamentos de livros, 40 espetáculos e concertos, 21 exposições, 18 sessões de leitura e poesia e 14 mesas de autores. "
MadreMedia/Lusa, 12.10.2023
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