a
bem da saúde mental
por Eugénio Lisboa
“Tem havido alguma
reacção civilizada, mas visivelmente incomodada, às impertinências brincalhonas
que publiquei, a propósito de uma entrevista dada por Gonçalo M. Tavares ao JL.
Queria no entanto esclarecer que o facto de usar um tom brincalhão não
significa que não estivesse a visar um objectivo muito sério.
A verdade é que grassa
pelo nosso milieu cultural uma vaga de irracionalismo, que vê génio em tudo o
que é obscuro e vagamente misterioso e oracular. Um exemplo desse “génio” que
fabrica apocalipses portentosos, usando frequentemente um português trôpego e
macarrónico, como quem bebe copos de água, é o escritor Gonçalo M. Tavares,
louvado, galardoado, traduzido (à custa de generosos subsídios), canonizado por
tudo quanto é poder literário. O aplauso frenético e altamente abrangente que
lhe é dado indicia um elevado grau de iliteracia funcional, em grande parte
atribuível ao nosso sistema educativo, que tem patrocinado os projectos e
filosofias mais delirantes. Sim, é sempre uma educação deficiente que explica
estas vagas de obscurantismo sebastianista. A este respeito, apetece-me
abonar-me na mente sempre cristalina e destemida de Bertrand Russell:
“Deparamos com o facto paradoxal de que a educação se tornou um dos principais
obstáculos à inteligência e à liberdade de pensamento.”
Foi-me um dia
argumentado que a minha falta de entusiasmo pela obra do oráculo GMT era uma de
dissidência em um milhão de aclamadores. Como se isto fosse resposta com algum
sustento filosófico. A certa altura da história da humanidade, quase toda a
gente tinha a certeza de que a Terra era plana, que o Sol girava à volta da
Terra e que os antípodas andavam de cabeça para baixo. E, no entanto, tudo isto
era falso. Como observava Russell (sempre ele!), “o facto de que uma opinião
tem sido largamente partilhada não evidencia de maneira nenhuma que não seja
completamente absurda”.
Em suma, o meu
objectivo é solicitar que olhem para estas coisas com um mínimo de apetite
crítico e se não deixem arrastar por um entusiasmo que pode ser da ordem das
coisas mórbidas.
Para vos pôr em boa
onda, deixo-vos aqui algumas pérolas colhidas na farta e lúcida seara de
Bertrand Russell:
Many
people would sooner die than think; in fact they do so.
It
has been said that man is a rational animal. All my life I have been searching
for evidence that would support that.
One
of the symptoms of an approaching nervous breakdown is the belief that one’s
work is terribly importante.
Even
when the experts all agree, they may well be mistaken.
E, já agora, em comentário suave ao
carão sempre apocalipticamente fechado de GMT:
A
smile happens in a flash but its memory can last a lifetime.”
Eugénio
Lisboa, 25.09. 2022
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