Um belíssimo e comovente soneto inédito de Eugénio Lisboa .
RIO SEM REGRESSO
A vida é um rio sem regresso
e começa, às vezes, muito longe
(seja qual for, nela, o sucesso)
de onde se acaba, como monge,
despojado e só, inda que cercado
por quem vai viver perto do morrer:
porque morrer é estar abandonado
e só, mas no meio do bem querer.
Se ir morrer é ficar a saber
que o mundo vai pra ele acabar,
entre muitos outros que vão viver,
o sabê-lo é então desaguar
na foz do rio que ali termina,
vendo o escuro que a morte dissemina.
Eugénio Lisboa21.07.2021
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