A versatilidade de Eugénio Lisboa é um constante deslumbramento. Cada livro que publica aguça a nossa curiosidade . Traz sempre uma nova descoberta para nos provocar e seduzir. E esta subjuga-nos, de imediato. É um livro fascinante de poesia.
Eugénio Lisboa compô-lo em tempo de confinamento. E, se a Peste o ditou, a Literatura acabou por ganhar uma nova obra de grande qualidade. E porque o tempo o exigia, Eugénio Lisboa soube brincar, satirizar e exortar a quem e com quem lhe muito bem aprouve. Detentor de um apurado sentido de humor e de uma brilhante oficina poética, Eugénio Lisboa produziu um livro que encanta e nos faz sorrir.
Eugénio Lisboa compô-lo em tempo de confinamento. E, se a Peste o ditou, a Literatura acabou por ganhar uma nova obra de grande qualidade. E porque o tempo o exigia, Eugénio Lisboa soube brincar, satirizar e exortar a quem e com quem lhe muito bem aprouve. Detentor de um apurado sentido de humor e de uma brilhante oficina poética, Eugénio Lisboa produziu um livro que encanta e nos faz sorrir.
"Poemas em Tempo de Peste" está já nos escaparates das livrarias. Abra-o e comece por esta elucidativa e provocadora Introdução do poeta Eugénio Lisboa:
Poemas para baratinar a peste
"Em tempos de peste e de confinamento mais ou menos
rigoroso, tendemos todos à melancolia, quando não ao
desespero. É nestas alturas que se recorre e deve recorrer ao humor e à faceirice, para desanuviar o ambiente.
Lembremo-nos do célebre Decameron, segundo o qual
aqueles protagonistas, para fugirem aos horrores e ao
perigo da peste negra, se isolaram num certo local a
contarem-se histórias ladinas, picarescas, apimentadas, licenciosas, para afastarem do espírito a mortandade que, lá fora, assolava as populações.
Nietzsche dizia que a tragédia só poderia ter sido
inventada por um povo feliz, como os gregos. Em contrapartida, a comédia deve ter sido inventada por um
povo infeliz, como antídoto à melancolia. Alguém perguntou um dia a Anatole France que tal tinha sido a
cerimónia da recepção do Prémio Nobel. Respondeu:
«Triste como um casamento e alegre como um enterro.» Porque é um facto: é nos funerais que se contam mais anedotas, não por falta de respeito ao morto e
seus familiares, mas como reacção ao horror da morte e
da perda. Cultivar o triste e o sombrio, quando a peste
nos cerca, é um erro calamitoso. Quando a melancolia
nos devora, deve recorrer-se ao humor e à traquinice.
Quase todos os grandes humoristas, como Mark Twain
ou Marcel Aymé, eram, no fundo, pessoas tristes a lutar
contra essa tristeza.
Estes poemas foram sendo escritos a pensar nos
amigos cercados pela peste e pelo humor merencório.
Agora, formatados em livro, servirão para quem os quiser ler.
Eugénio Lisboa, in Poemas em Tempo de Peste, Guerra e Paz Editores, pp. 13-14
E, agora, delicie-se com estes dois poemas:
Brincando com a redondilha maior:
The Waste Land
Abril é o mês mais cruel,
dizia um poeta inglês
que deitava no papel
infernos de nitidez.
Vejam: morremos aos molhos,
depois de viver sozinhos
atrás de sete ferrolhos,
ao abrigo dos vizinhos.
O inimigo escondido
ataca-nos de surpresa
com um furor incontido
pra deixar uma certeza:
Se a vida era coisa breve,
nos tempos de antes de agora,
hoje a morte que me leve
fá-lo com menos demora.
As ruas ficam desertas
e os laços que a vida laça
logo tu os desapertas
ao ver a morte que passa.
31 de Março do Ano da Peste
Eugénio Lisboa, in Poemas em Tempo de Peste, p.17
Amor Virtual em Tempo de Peste
Usa-se o computador,
nestes dias desolados,
para fazer amor,
mas com pífios resultados.
nestes dias desolados,
para fazer amor,
mas com pífios resultados.
O computador imita,
faz só aquilo que pode:
se o amor, com força, excita,
o computador implode!
Este amor só pelo éter,
sem um toque na cereja,
é como apalpar o sweater
em vez da teta que almeja!
Amar por computador,
nesta época tão triste,
é como fazer amor
com alguém que não existe!
21.04.2020
Eugénio Lisboa,
que nada tem contra os computadores, antes pelo contrário, mas que não pode, em boa consciência, não lhes reconhecer os limites.
Eugénio Lisboa, in Poemas em Tempo de Peste, Guerra e Paz, Editores, S.A., Setembro de 2020, pp. 13, 14, 18, 43
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