NÃO SEI DE
AMOR SENÃO
Não
sei de amor senão o amor perdido
o
amor que só se tem de nunca o ter
procuro
em cada corpo o nunca tido
e é
esse que não pára de doer.
Não
sei de amor senão o amor ferido
de
tanto te encontrar e te perder.
Não
sei de amor senão o não ter tido
teu
corpo que não cesso de perder
nem
de outro modo sei se tem sentido
este
amor que só vive de não ter
o
teu corpo que é meu porque perdido
não
sei de amor senão esse doer.
Não
sei de amor senão esse perder
teu
corpo tão sem ti e nunca tido
para
sempre só meu de nunca o ter
teu
corpo que me doi no corpo ferido
onde
não deixou nunca de doer
não
sei de amor senão o amor perdido.
Não
sei de amor senão o sem sentido
deste
amor que não morre por morrer
o
teu corpo tão nu nunca despido
o
teu corpo tão vivo de o perder
neste
amor que só é de não ter sido
não
sei de amor senão esse não ter.
Não
sei de amor senão o não haver
amor
que dure mais que o nunca tido.
Há
um corpo que não pára de doer
só
esse é que não morre de tão perdido
só
esse é sempre meu de nunca o ser
não
sei de amor senão o amor ferido.
Não
sei de amor senão o tempo ido
em
que o amor era amor de puro arder
tudo
passa mas não o não ter tido
o
teu corpo de ser e de não ser
só
esse é meu por nunca ter ardido
não
sei de maor senão esse perder.
Cintilante
na noite um corpo ferido
só
nele de o não ter tido eu hei-de arder
não
sei de amor senão amor perdido.
Manuel
Alegre, , in “Livro do Português Errante", Fevereiro de 2001, Publicações Dom Quixote
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