Uma em cada dez vítimas suporta mais de 12 anos de violência
Por Rosa Ramos
Relatório anual mostra que 74% das situações de violência são continuadas e a maioria acontece entre o casal
"A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) detectou 419 casos de vítimas que suportaram agressões durante mais de 20 anos. Segundo relatório anual de 2013, divulgado ontem, 10% do total das vítimas que recorreram à associação aguentaram situações de violência mais de 12 anos. A maioria dos crimes reportados (74%) foram, aliás, considerados continuados.
Em 2013, o número de pessoas que pediram ajuda à APAV subiu 63%. No ano anterior tinham sido atendidas cerca de 22 700 vítimas de crimes, mas o número ultrapassou os 37 200 atendimentos em 2013 - o que representa um aumento de 15 mil situações reportadas.
De acordo com a associação, a crise económica e social poderá explicar a subida. "O actual contexto de dificuldades financeiras e sociais revela, a cada dia que passa, um crescente empobrecimento da população portuguesa", começa por explicar José Duque, da APAV. A crise tem desencadeado, por exemplo, mais casos de violência conjugal ou em contexto familiar. "As dificuldades económicas levam a que casais separados continuem a coabitar no mesmo espaço e que várias gerações da mesma família ocupem uma só casa, o que agudiza os conflitos", exemplifica José Duque.
As estatísticas comprovam-no. Em 2012 foram reportadas à APAV 16 970 situações relacionadas com violência doméstica, enquanto no ano passado o número já foi de 17 384. Também os crimes cometidos na residência comum do agressor e da vítima conheceram uma subida, de 4077 casos em 2012 para 5507 o ano passado. Por outro lado, a percentagem de crimes cometidos pelo cônjuge da vítima aumentou 4% e os perpetrados por companheiros subiu 11%. Do total de 20 642 crimes reportados à APAV no ano passado, mais de 80% estiveram relacionados com situações de violência doméstica.
silêncio Apesar de os números do último relatório serem "expressivos", a APAV admite que muitas vítimas continuam a não procurar ajuda. "Com receio de não terem condições económicas para sobreviver fora de um agregado familiar violento", sublinha José Duque. As estatísticas mostram que quase metade das vítimas (44%) que recorrem à associação admitem não ter apresentado queixa às autoridades. "Nós incentivamos sempre a apresentação de queixa, pois acreditamos que a justiça está ao serviço das pessoas, mas muitas vítimas têm medo de represálias e preferem primeiro zelar pela sua segurança", explica a associação.
Crianças Fora do contexto conjugal, as crianças e os idosos continuam a ser os grupos mais vulneráveis. Todas as semanas, 19 crianças e jovens e 15 idosos são vítimas de crimes. Em 2013 foram reportadas à associação 974 situações com menores envolvidos (mais 100 que no ano anterior) e ainda 774 casos de violência com idosos.
O que parece não mudar é o perfil das vítimas. Continuam a ser sobretudo mulheres, com idade entre os 25 e os 54 anos, casadas, com filhos e estudos superiores. Por outro lado, em 82,3% dos crimes os agressores foram homens. O agressor-tipo, aponta o relatório da APAV, tem entre 25 e 54 anos e é casado. Quanto à situação profissional, 17% dos agressores estavam desempregados.
Já no que diz respeito aos crimes sexuais, e fora do contexto conjugal, a Associação de Apoio à Vítima sublinha que foram relatados no ano passado 83 casos de violação de crianças ou adultos (3,3% do total de crimes) e 70 de abuso sexual de crianças e menores de 14 anos (2,8%). " Jornal i, 13/02/14
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