“ O sentido da existência é conjuntamente descoberto e construído pelo ser humano. Reina aqui um autêntico círculo hermenêutico; com efeito, somos nós que constituímos o sentido da nossa existência ; o agir humano tem esta virtude de poder realizar um projecto cuja sede reside na pessoa que o traça , ainda que a sua figura concretamente efectuada difira muitas vezes da programação inicial. Mas, na própria altura em que realizamos o projecto, opera-se pouco a pouco uma inversão: é o sentido que se apodera de nós, como se nos fizesse sentir que foi ele que validou o decurso das nossas acções, que foi ele que desde o princípio guiou os nossos passos, conferindo-lhes um valor que acaba por caracterizar e definir a nossa própria existência. Entre o sentido da vida e o valor desta tece-se uma secreta e íntima ligação. É assim que entre o valor , considerado como o ethos, o lugar interior da existência humana, e o sentido, no qual se alberga o dinamismo da existência, se instaura uma tensão fecunda. Se devêssemos imitar a linguagem de Heidegger, diríamos que a existência se recolhe no seu valor ; mas este recolhimento no qual ela encontra a sua identidade é, ele próprio, o fruto por assim dizer colhido pela graça de um acolhimento, acolhimento que toma a forma da abertura a uma exterioridade. Com efeito, etimologicamente, o sentido aponta para uma direcção que apenas se determina pelo movimento que ela suscita. É deste modo que o sentido tem algo de “ex-stático”, na medida em que não se deixa encerrar numa posição estática. O sentido é dinâmico, não se deixa aprisionar num lugar e, por isso, resiste à ideia de uma posse estável. Não será isso, aliás, que nos leva a afirmar que o ser não “ possui” o sentido da existência, mas caminha na sua busca? Contudo, a exterioridade do sentido não significa que ele nos permanece exterior , sem possibilidade de assimilação; pelo contrário, ele tem a virtude de nos descentrar de nós próprios, num movimento incessante de procura. É nesta perspectiva que recolhimento e acolhimento se dialectizam, como recentração sobre si, por um lado, e ,por outro, descentramento pelo qual o ser se abre ao mundo e ao outro. O movimento duplo, sistólico e diastólico, desta busca do sentido faz compreender a verdade da espiritualidade: quem consegue melhor gerir a sua solidão será o mais capaz de se abrir ao outro; quem está reconciliado consigo no meio dos dramas da existência será o mais apto a entrar no dinamismo da compreensão e da tolerância para com os outros. A liberdade é, com efeito, libertação face à armadilha de uma solidão mal gerida, assim como libertação de um movimento centrípeto vivido tantas vezes como agressividade para fora.” Michel Renaud, (filósofo), in “ A fragilidade na busca do sentido da existência”, Revista Portuguesa de Bioética
O sentido da existência tem de ser interiorizado no inconsciente e no pré-consciente. Sem isso é um achado inexistente... Resistir é também recusarmos ser frágeis!... Existir. Tema que sempre tem "apoquentado" a Filosofia, originando inúmeras dissertações, e igualmente tema demasiado profundo e metafísico para poder ser comentado em espaço tão breve...
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