segunda-feira, 8 de abril de 2024

Os Gatos de Eugénio Lisboa

Eugénio Lisboa  é o nosso mais prestigiado intelectual. Autor de uma volumosa e variada obra que se estende por diferentes géneros , acaba de publicar um novo livro de poesia: Soneto , modo de usar, editado pela Guerra & Paz.
Visitamo-lo , com redobrado prazer, para extrair três  belíssimos sonetos dedicados a gatos,  uma das suas grandes paixões.

OS PODERES DO GATO


Os gatos olham-nos com uma atenção
que só mesmo os gatos conseguem ter:
olhar de cognição ou de paixão?
Olhamos e ficamos sem saber!

Tudo, no gato, é misterioso:
o que ele faz e também o que não faz!
É inteligente e ardiloso
e nada de que não seja capaz!

Quando o gato decide o que quer,
não adianta nada resistir-lhe:
o gato acaba sempre por vencer,

como se fôssemos nós a pedir-lhe!
Os gatos têm poderes ocultos,
que dominam vontades e tumultos!

17.03.2023

Na falta de tema, recorro ao gato. O gato é inesgotável e os outros temas disponíveis, no mercado, não são. Como é que os grandes poetas passaram a vida a esbanjar talento com temas de carregar pela boca, havendo o gato?! Isto só confirma uma suspeita que sempre tive: os grandes poetas serão grandes, mas não são inteligentes. Ainda bem: deixaram o gato para eu recorrer a ele, sempre que me não apeteça falar de coisas menores e áridas.
Eugénio Lisboa, in Soneto, modo de usar, Editora Guerra & Paz, Abril de 2024

OS DIREITOS DO GATO

Se a Declaração Universal
dos Direitos do Gato é pra valer,
isso quer dizer que em Portugal
todo o gato tem muito a haver!

Ela garante comida e colo,
bom aquecimento e também cama
e tudo conforme o protocolo
que o gato impõe e proclama!

Com Declarações destas, não se brinca
e, desta, o gato nunca se esquece:
lê-a com atenção e logo vinca

o parágrafo que mais lhe apetece!
Direitos são direitos e o gato
ganha, em direitos, o campeonato!
                         18.03.2023
Eugénio Lisboa, in Soneto, modo de usar, Editora Guerra & Paz, Abril de 2024

A GENEROSIDADE DO GATO
 
Aos meus gatos todos,
 antigos e recentes.
 
Nenhum animal foi tão caluniado
como o gato: que é egoísta,
que é arrogante e malcriado,
só falta dizer que é Maoísta!
 
Que é amado mas não sabe amar.
Que gosta de receber mas não dá!
Se o maçamos, manda-nos bugiar.
Que se julga oriundo de Bagdá!
 
Mas do que toda a gente se esquece
é de que o gato, como ninguém,
sem nunca pestanejar, nos oferece
 
sem “mas”, sem “se” e sempre sem “porém”,
a majestade e a esbelteza
da sua inconfundível beleza!
                        
                     19.03.2023
Eugénio Lisboa, in Soneto, modo de usar, Editora Guerra & Paz, Abril de 2024

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