Na tarde erramos
Nós, tu e eu,
Mas três.
Tão sós que vamos
E não sou eu
Quem vês.
P’ra que o meu senso
Louves;
Em vão não falo,
Tanto o que eu penso
Ouves.
Que a outro assim
Levasses
E, longe embora,
Somente em mim
Pensasses.
I
OS PROFETAS
Assombra, esta verdade que trazemos.
Aterra, a nitidez com que falamos.
Mas nós, mais do que vós, nos aterramos
Da certeza que temos.
Porque há distâncias que ninguém transpôs
E predizer é ser no tempo – Aquém.
Correm palavras como um rio, em nós:
A verdade é Belém.
VISITAÇÃO
Com que lutou Jacob, na madrugada?
Que é desse outro, das falas sussurrantes,
Que surgiu a Maria, a fecundada,
Que é da estrela, pela mão de Deus lançada
A guiar os incertos caminhantes
Ao colmo da cabana consagrada?
Onde estão, que os procuro noite e dia
Sem nunca ver cumprido o meu desejo?
Os não encontro porque sou impuro,
Ou sou impuro porque os não vejo.
CANÇÃO DO PASTOR PERDIDO
Com oferendas também
Por Babel me passava;
E, passando, hesitei,
Hesitando, parei
E, parando, ficava.
Nem os répteis todos
Da Paixão e do Mal
Terão força que possa
Afundar-me na fossa
Do Juízo final.
Eugénio Lisboa, 27.10.2022
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