O
interesse que temos em acreditar numa coisa
não
é prova da existência dessa coisa.
Voltaire
“À
meditação dos crentes de todas as religiões, incluindo os crentes de todas as
utopias políticas. Como dizia Bertrand Russell, morrer por uma crença é um
disparate, porque essa crença pode muito bem não ter fundamento. Se morrer por
uma crença é idiota, matar por ela é um crime sem redenção, além de ser também
uma refinada idiotice. As religiões e as utopias políticas, isto é, o domínio
do inverificável, têm cometido, ao longo da história, este crime, em gigantesca
escala. E nunca faltam eruditos, muito amantes da humanidade, a justificá-lo. A
pior forma do assassinato é o assassinato, de boa consciência. O assassinato
promovido por religiões e utopias políticas é um assassinato desta natureza.
Quanto menos argumentos existem a favor de uma crença ou utopia, mais
violentamente se tenta impô-la. À direita e à esquerda, o século XX
documentou-o, de maneira singularmente sinistra. A intensidade e sinceridade
com que se acredita não é indício de nada a não ser dessa intensidade e dessa
sinceridade, nunca da validade daquilo em que se acredita.”
Eugénio Lisboa, 07.12.2021
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