Professor Rui Baptista (19.05.1931-13.09.2021) |
ADEUS, RUI
À
memória do meu amigo,
Rui
Baptista, lembrando
África, Mafra & outras safras!
Rui! A morte abusa da nossa fragilidade,
e prega-nos grandes partidas,
com cínicas armadilhas escondidas:
por todo o lado, escorregadelas no banho,
que nos fazem chorar baba e ranho,
estatelados em poses esquisitas,
gritando e fazendo tristes fitas!
Morremos de todas as maneiras,
sossegados, à sombra das bananeiras,
ou, no dia seguinte, acordando mortos,
mas serenos, cheios de confortos.
Há mortes para todos os gostos,
Rui, e a nossa não é diferente:
morremos, às vezes, nos nossos postos
e outras, teremos, com sorte, uma morte irreverente!
Tu morreste, Rui, como eu espero morrer,
cheio de memórias africanas, tão boas,
porque a África nos dava bom viver,
com um mar grande e frutas boas.
Devo-te, Rui, teres-me dado um palpite
para o lugar onde passar a noite de núpcias
um lugar na serra, habitado por Afrodite,
onde fiquei, descobrindo doces minúcias!
Fomos, Rui, ao longo dos anos,
conversando, concordando, discordando,
mas ultimamente já não fazendo planos,
porque o fim se vinha aproximando.
Se eu acreditasse no além,
pensaria em ali te encontrar,
para continuarmos em ameno conversar:
o muito magicar ensina-me, porém,
que, quando expiramos, é mesmo o fim:
mesmo não entendendo bem o nada,
tudo acaba, sei lá porquê, porque sim:
o nada é apenas a vida dispensada.
Mas não vale a pena, Rui, ralar-nos.
Porquê, no fim de contas, preocupar-nos?
Será mesmo que vale a pena,
só porque vamos sair de cena?
O que fomos ficará algum tempo na memória
de quem outrora muito amámos:
isto, depois, será pálida história
que se apaga como nós nos apagámos.
16.09.2021
Eugénio Lisboa, ( Poesia inédita)
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