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Ilustração com soldados e civis clamando por liberdade e industrialização
(Hulton Archive/Getty Images |
A Revolução Russa é considerada um dos principais eventos da história contemporânea, tendo marcado o curso do século XX. Hoje, 7 de Novembro, completa cem anos.
Em Fevereiro de 1917, com mobilização de soldados e trabalhadores, parte da elite liberal do Império Russo comandou uma revolta. A partir de Petrogrado (São Petersburgo), então a capital do país, derrubaram 300 anos de monarquia dos Romanov.
A Revolução de Outubro aconteceu justamente pelo descontentamento dos bolcheviques e da população. Ambos acreditavam que nenhuma real mudança social tinha sido realizada após a queda do império. O povo continuava com fome, morrendo nos conflitos da Primeira Guerra Mundial e clamando por uma divisão justa de terras.
O centenário da Revolução Russa marca a data em que o ideário dos pensadores Karl Marx e Friedrich Engels ganhou uma chance de se tornar real. Em 1917, o mundo via um governo socialista pela primeira vez, sem saber o que esperar dele ou se o chamado “socialismo utópico” seria realmente possível. Liderada por Lenin, a mudança que culminou no fim do Império Russo e da dinastia Romanov abriu as portas para novas perspectivas. Cuba, Coreia, China, Vietnam seguiram caminhos similares.
A Revolução de Outubro, pelo calendário gregoriano, ocorreu em Novembro. À época, no entanto, o império czariano seguia o calendário juliano, 13 dias “atrasado”. Portanto, os eventos da tomada de poder dos bolcheviques narrados no fim de Outubro, na verdade, aconteceram em Novembro. A partir deste ponto na história, tornou-se possível o surgimento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Com o mote “paz, terra e pão”, os bolcheviques prometiam para o povo precisamente comida, uma reforma agrária e a saída da guerra. Depois de alguns meses em conflito, o grupo sai vitorioso. Durante alguns meses, a guerra civil entre bolcheviques e mencheviques permanece até que, em 1922, é fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS.
Para relembrar os 100 anos do clímax da Revolução de Outubro, algumas fotos raras da Revolução Russa:
Membros do Exército Russo carregam bandeiras com dizeres republicanos no dia 14 de Outubro de 1917 (Hulton Archive/Getty Images)
No dia 26 de Outubro, pessoas protestam na cidade de São Petersburgo – então chamada de Petrogrado (Keystone/Getty Images)
Em Outubro de 1917, soldados marcham com bandeiras na cidade de São Petersburgo (Keystone/Getty Images)
Membros do Exército Vermelho posam para foto em Outubro de 1917 (Hulton Archive/Getty Images)
Russos guardam a frente da Catedral de Santo Isaac, em São Petersburgo, em outubro de 1917 (Keystone/Getty Images)
Em Outubro de 1917, as mulheres russas também vão às ruas exigir o direito ao voto (Keystone/Getty Images)
Soldados e civis ouvem o discurso de Mikhail Rodzianko, no mês de Outubro de 1918, no Palácio Tauride, em São Petersburgo. Rodzianko era um ex-membro do governo czarista e contrarrevolucionário (Hulton Archive/Getty Images)
Em Outubro de 1917, civis correm dos tiros na principal avenida de São Petersburgo, a Nevsky Prospekt (Hulton Archive/Getty Images)
Discurso em frente a Catedral de Santo Isaac, em São Petersburgo, em Outubro de 1917 (Keystone/Getty Images)
Mobilização de operários que buscavam onde trabalhar após a Revolução Russa, em 1918 (Central Press/Getty Images)
George Orwell nos 100 anos de Revolução Russa
"Quando desenvolveu suas teses, no decorrer do século XIX, Marx acreditava que sua vaticinada “revolução do proletariado” haveria de começar por um país em avançado estágio de industrialização, pois só uma nação assim reuniria o conjunto de condições necessárias para isso, a começar pela existência de uma classe proletária propriamente dita: trabalhadores industriais urbanos solidamente estabelecidos, em quantidade numerosa e em condições de se organizar e se rebelar a partir da “tomada de consciência” de sua própria exploração. Berço da Revolução Industrial, a Inglaterra poderia ser citada como a primeira da lista de países com ambiente propício para o cumprimento da profecia marxista.
Todavia, por uma dessas ironias de que a História está repleta, coube a uma Rússia secular, atrasada, agrária, praticamente feudal, ser o palco da primeira experiência socialista no mundo, a partir da Revolução Russa, de 7 de Novembro de 1917, a qual completa exactos 100 anos pelo calendário ocidental.
Por uma segunda ironia, entretanto, coube a um grande escritor inglês, George Orwell, deixar as mais agudas críticas ao sistema de governo socialista tal como efectivamente exercitado na União Soviética de Stalin e de outros ditadores, por meio de textos literários como “1984” e, acima de tudo, “A Revolução dos Bichos”. Mistura de fábula com sátira política publicada em 1945, essa narrativa se divide entre crítica mordaz ao capitalismo e também a seu regime então antagónico.
Repare-se bem na data: estamos no último ano da Segunda Grande Guerra, prenúncio da Guerra Fria e início da luta geopolítica entre os Estados Unidos e os soviéticos pela hegemonia mundial.Sem deixar de apontar as deficiências do capitalismo, Orwell critica as principais distorções do pensamento socialista tal como aplicado por Stalin, por meio da alegoria dos animais domésticos de uma granja que se rebelam, expulsam os homens (patrões) e assumem o controle dos meios de produção e do produto do próprio trabalho, em regime de autogestão. Assim como na URSS, no começo tudo parece bem. Com o tempo, porém, a revolução se desvia dos seus princípios e acaba em miséria, fome e exploração ainda maior dos animais trabalhadores.A democracia é substituída por um governo ditatorial e centralizador, composto por uma casta de privilegiados (os porcos, gradativamente transformados nos homens que outrora os tiranizavam). Acabam-se todas as liberdades. No lugar delas, o culto alienante à personalidade do “grande líder” e a perseguição implacável aos opositores internos e externos do regime, reais ou imaginários.Os sonhos de igualdade e prosperidade dão lugar a uma nova forma de tirania."Gazeta
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