quinta-feira, 4 de maio de 2017

Estou Vivo e Escrevo Sol

TEU CORPO PRINCIPIA

Dou-te um nome de água
para que cresças no silêncio.

Invento a alegria
da terra que habito
porque nela moro.

Invento do meu nada
esta pergunta.
(Nesta hora, aqui.)

Descubro esse contrário
que em si mesmo se abre:
ou alegria ou morte.

Silêncio e sol – verdade,
respiração apenas.

Amor, eu sei que vives
num breve país.

Os olhos imagino
e o beijo na cintura,
ó tão delgada.

Se é milagre existires,
teus pés nas minhas palmas.

Ó maravilha, existo
no mundo dos teus olhos.

Ó vida perfumada
cantando devagar.

Enleio-me na clara
dança do teu andar.

Por uma água tão pura
vale a pena viver.

Um teu joelho diz-me
a indizível paz. 

António Ramos Rosa, in "Estou Vivo e Escrevo Sol", Lisboa: Editora Ulisseia, 1966

1 comentário:

  1. Belo, estranhom e muito etéreo poema|
    Possivelmente, ele estava numa fase de paixão. Hei-de ir ver que idade tinha

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