Os
autores mais originais dos últimos tempos são originais, não por produzirem
algo novo, mas apenas porque são capazes de dizer as coisas que dizem como se
elas nunca antes houvessem sido ditas.
J.W. Goethe, in” Werk”, Berlin:
Direcmedia, 1998.
“Um
monge disse-me no caminho: "Eu queria construir uma ruína.
Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. A minha ideia era fazer alguma
coisa ao jeito de cabana. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono,
como as cabanas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem
debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança
presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha
entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem
ninguém dentro. (...) (O olho do monge estava perto de ser um canto.) Continuou:
digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro
dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das
ruínas, como o lírio pode nascer da lixeira.” E o monge calou-se desconcertado."
Manoel de Barros , in "Ensaios Fotográficos", Editora Record, 2000.
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