Manoel Andrade, poeta brasileiro, vem a Portugal. Visitará Portimão onde é esperado por amigos e leitores da sua obra. Aí, dinamizará, no dia 14 de Outubro, uma tertúlia que junta, mensalmente, um grupo diverso à volta de uma mesa para discussão de ideias, temas culturais e literários numa abordagem livre , independente e plural. O acontecimento realizar-se-á no "Velocity Bar". Posteriormente, no dia 19 do mesmo mês de Outubro, pelas dezoito horas, proferirá uma Palestra, sob o título "A América Latina nos rastos de Manoel de Andrade", na Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes, em Portimão.
A sua viagem prosseguirá por Espanha e França.
Livres Pensantes, que tem publicado vários excertos da obra deste escritor, regozija-se com a sua presença no nosso país e saúda-o com os melhores votos.
Publica-se, hoje, uma parte da entrevista concedida à Revista Ideias que traça um breve percurso deste grande poeta da resistência, com um passado brilhante na luta pela Liberdade.
Nesta entrevista, o poeta falou sobre a luta contra a ditadura, contou um pouco da sua obra e relembrou a sua jornada pela América Latina, que, para o autor, é o melhor lugar para se viver.
"Mais do que um poeta, Manoel de Andrade considera que seus livros não são apenas poesia. São, segundo Andrade, “Um documento histórico, porque todos os poemas trazem uma consigna geopolítica de luta e, paradoxalmente, uma mensagem de paz e esperança”.
A sua viagem prosseguirá por Espanha e França.
Livres Pensantes, que tem publicado vários excertos da obra deste escritor, regozija-se com a sua presença no nosso país e saúda-o com os melhores votos.
Publica-se, hoje, uma parte da entrevista concedida à Revista Ideias que traça um breve percurso deste grande poeta da resistência, com um passado brilhante na luta pela Liberdade.
Nesta entrevista, o poeta falou sobre a luta contra a ditadura, contou um pouco da sua obra e relembrou a sua jornada pela América Latina, que, para o autor, é o melhor lugar para se viver.
"Mais do que um poeta, Manoel de Andrade considera que seus livros não são apenas poesia. São, segundo Andrade, “Um documento histórico, porque todos os poemas trazem uma consigna geopolítica de luta e, paradoxalmente, uma mensagem de paz e esperança”.
Levando em conta o histórico do autor,
é coerente considerar que um livro de poesia pode representar mais do que uma
reunião de poemas. Com a publicação de seus versos, Andrade sofreu perseguição
política e enfrentou resistência militar em vários países da América Latina nos
anos 1970. Com a publicação de Saudação a Che Guevara o poeta teve que deixar o
Brasil.
A luta e a obra de Andrade fizeram com
que o autor percorresse 16 países da América Latina. A jornada está agora
reunida em seu mais recente livro Nos Rastros da Utopia (2014). Antes, já havia
publicado outros livros onde se incluem Poemas para a Liberdade (1970) – com tiragem esgotada em diversos
países, e Cantares (2007) – seu retorno à poesia.
Como analisa o papel que a
literatura teve na luta contra a ditadura?
Ela não teve o papel que deveria ter. Os comprometimentos foram poucos. Acho que o teatro foi o grande palco dessa luta e onde se destacaram o Grupo Opinião do Rio de Janeiro e o Teatro de Arena de São Paulo. Lembro-me que, em 1965, o Grupo Opinião chegou a Curitiba com a peça Liberdade, Liberdade, trazendo em seu elenco Jairo Arco e Flecha, Tereza Raquel e Paulo Autran, de quem me tornei amigo.
Ela não teve o papel que deveria ter. Os comprometimentos foram poucos. Acho que o teatro foi o grande palco dessa luta e onde se destacaram o Grupo Opinião do Rio de Janeiro e o Teatro de Arena de São Paulo. Lembro-me que, em 1965, o Grupo Opinião chegou a Curitiba com a peça Liberdade, Liberdade, trazendo em seu elenco Jairo Arco e Flecha, Tereza Raquel e Paulo Autran, de quem me tornei amigo.
A peça marcou época no teatro
brasileiro e citava textos em prosa e poesia de autores famosos, para protestar
contra a repressão imposta pela ditadura. Depois de minha volta ao Brasil me
afastei da vida cultural e da literatura, mas percebi que, sobretudo depois do
AI-5, a criação literária vivia amordaçada e desiludida de seus próprios
objectivos.
Não se editavam muitos romances
naquela época e, apesar do meu distanciamento, li algumas obras como Quarup e
Bar Don Juan, de Antonio Callado, e Pessach: A Travessia, de Carlos Heitor
Cony.
O texto de apresentação do livro Nos
rastros da utopia – uma memória crítica da América Latina dos anos 1970,
apresenta-o como um caminhante incansável que fez uma fantástica peregrinação
por 16 países da América. Fale um pouco dessa jornada.
Ela não teve o papel que deveria ter.
Os comprometimentos foram poucos. Acho que o teatro foi o grande palco dessa
luta e onde se destacaram o Grupo Opinião do Rio de Janeiro e o Teatro de Arena
de São Paulo. Lembro-me que, em 1965, o Grupo Opinião chegou a Curitiba com a
peça Liberdade, Liberdade, trazendo em seu elenco Jairo Arco e Flecha, Tereza
Raquel e Paulo Autran, de quem me tornei amigo.
A peça marcou época no teatro
brasileiro e citava textos em prosa e poesia de autores famosos, para protestar
contra a repressão imposta pela ditadura. Depois de minha volta ao Brasil me
afastei da vida cultural e da literatura, mas percebi que, sobretudo depois do
AI-5, a criação literária vivia amordaçada e desiludida de seus próprios
objectivos.
Não se editavam muitos romances
naquela época e, apesar do meu distanciamento, li algumas obras como Quarup e
Bar Don Juan, de Antonio Callado, e Pessach: A Travessia, de Carlos Heitor
Cony.
Com a publicação de Cantares (2007),
você retomou a publicação de poesia depois de um longo período. Por que este
intervalo?
Realmente, foi um longo intervalo.
Mais de 30 anos. Algo estranho na vida de um escritor. Meu último poema, da fase
latino-americana, chamado Liberdade, foi escrito em 1971, no México. Depois
disso, começa um intenso período de viagens com palestras, conferências e
recitais nos Estados Unidos e depois no Equador, no caminho de minha longa
volta ao Chile, em Dezembro de 1971, e, meses depois, para o Brasil, em meados
de 1972.
Somente voltei a escrever poesia em
2002. Ou seja, depois de 31 anos. Porquê? Fortes razões de ordem familiar me
fizeram voltar, justamente na época mais perversa do regime ditatorial,
obrigando-me a entrar no anonimato literário, social e profissional.
A luta contra a ditadura foi um dos
motivos por esse intervalo?
De 1972 a 1975, as operações militares
para acabar com a Guerrilha do Araguaia, bem como a crueldade com que os
DOI-Codi iam aniquilando os quadros da guerrilha urbana, geraram o pânico entre
todos aqueles militantes ou intelectuais que haviam se posicionado, na acção ou
no ideário, contra a ditadura. As detenções, torturas, execuções e
desaparecimentos entraram em sua fase aguda em todo o país.
Alguns meses depois de minha chegada,
estava sendo procurado pelo DOPS. Transferi meu registo da OAB para Santa
Catarina, com o objectivo de advogar em meu Estado. Mas também lá senti que não
poderia assumir publicamente qualquer trabalho. Foi neste contexto que
encontrei, em Curitiba, uma forma de trabalhar sem que os agentes da ditadura
nunca soubessem onde eu estava. Fui vender a Enciclopédia Delta Larousse, numa
actividade itinerante, de cidade em cidade, de Estado em Estado. Tornei-me campeão
estadual e nacional de vendas, cheguei ao topo na hierarquia dos títulos, à
classe gerencial e palestrante em técnicas de marketing.
Minha retomada à criação poética
aconteceu numa misteriosa circunstância. Já expliquei algures que minha volta à
poesia deu-se por uma intrigante inspiração das musas. Na campanha eleitoral
para governador do Paraná, em 2002, Roberto Requião – velho amigo, colega da
Faculdade de Direito e companheiro de ideais na juventude –, foi covardemente
acusado de inverdades e calúnias pelos seus inimigos políticos. Indignado,
comecei a escrever alguns versos, relembrando o tempo em que saíamos em
passeatas de protesto contra a ditadura, dos sonhos de justiça e liberdade que
partilhávamos e que ele brilhantemente colocava na sua afiada oratória e eu no
lirismo dos meus versos.
Lembrei-me também do caminho que me
indicou, e dos amigos a quem me recomendou, no Paraguai, quando, em Março de
1969, tive que sair do Brasil, num dos momentos mais difíceis de minha vida.
Todo este gesto solidário se transformou no poema Tributo, tornado público num
jornal da época e que consta do meu livro Cantares. Foi com este poema que
voltei a escrever poesia, em Setembro de 2002, depois de 31 anos de abstinência
literária.
Consegue enxergar uma marca na
literatura produzida nesses países? O que caracteriza a poesia
latino-americana?
Meu interesse, naqueles anos e ainda
hoje, pela literatura latino-americana sempre foi dirigido para os autores
comprometidos, sobretudo com o indigenismo e as lutas sociais, e o que
caracteriza essa literatura, na prosa e na poesia, é a denúncia e a
resistência.
Este espaço não me permite nomear
todos os autores, cujas obras estudei – e tudo isso está amplamente analisado
Nos Rastros da Utopia – e que se comprometeram com essas lutas, mas me lembro
aqui de Mariano Melgar, Pablo Neruda, Armando Tejada Gómez, Ariel Danton
Santibañez Estay, Eliodoro Aillón Terán, Javier Heraud, Cesar Vallejo, Luis
Nieto, Leonel Rugama, Tirso Canales, Roque Dalton e Otto René Castillo entre os
poetas, e Oscar Soria Gamarra, José María Arguedas, Roa Bastos, Ciro Alegria,
Manuel Scorza, Jorge Icaza, Miguel Angel Astúrias e Carlos Fuentes entre os
prosadores.
Poemas para a liberdade teve grande
repercussão, com edições esgotadas em vários países. A que atribui esse
alcance?
Este livro nasceu espontaneamente
pelas mãos dos estudantes peruanos de Arequipa, em Janeiro de 1970, que
propuseram gratuitamente uma edição mimeografada de 1.500 exemplares. Dois
meses depois, os estudantes de Cusco lançaram duas edições, respectivamente de
700 e 1.000 exemplares mimeografados e em Junho daquele ano, em La Paz, meu
livro tem sua primeira edição, de 2.000 exemplares, lançada graficamente, e sem
nenhum custo para mim, pelo Comitê Central Revolucionário da Universidad Mayor
de San Andrés.
Na verdade, os factos que levaram à
edição boliviana de Poemas para la libertad é uma história espiritualmente
misteriosa e inacreditável do ponto de vista editorial e que é contada com
todos os seus detalhes no meu livro Nos Rastros da Utopia, envolvendo o
jornalista brasileiro Paulo Canabrava Filho, na época militante da ALN –
Aliança Renovadora Nacional – e correspondente da France Press, exilado na
Bolívia, e o poeta e jornalista boliviano Jorge Suárez.
E as edições em outros países, como
aconteceram?
Na Colômbia, a obra foi editada pela
Nova Era, cujos 1.500 exemplares se esgotaram em poucas semanas nas livrarias
de Cali e Bogotá; duas edições norte-americanas editadas em 1971, em San Diego,
pela Grandma’s Camera; a edição equatoriana editada pela Universidade Central
do Equador, em 1971 e, finalmente, em 2009, a edição bilíngue brasileira
editada pela Escrituras.
Meus Poemas para la libertad também
tiveram edições parciais na Nicarágua, em plena ditadura de Somoza, editadas
pela Universidade de El Salvador e publicados, declamados e debatidos em
Tampico, no México, em Fevereiro de 1971, durante as comemorações do 37º
aniversário de morte de Augusto Cesar Sandino, onde participei, a convite dos
sandinistas exilados no México. Dois de seus poemas – Canção para homens sem
face e Canção de amor à América – foram publicados pela Revista Civilização
Brasileira e o último foi comentado pelo crítico Wilson Martins ao afirmar que
“é, com certeza, um dos belos poemas do nosso tempo”.
Quanto ao seu alcance e repercussão,
creio que se deve ao carácter libertário dos meus versos, à imagem
revolucionária que se criou em torno de minha pessoa como um poeta desterrado e
expulso de vários países por minhas convicções políticas, assim como pela minha
incansável militância poética, peregrinando ao longo de toda a América Latina,
num tempo em que a juventude estava
Além do sucesso editorial, o livro
teve grande influência política. Essa repercussão política já era esperada?
Na década de 1970, o continente estava
semeado de sonhos e esperanças. A revolução cubana, a imagem heróica do Che, as
repercussões das revoltas estudantis de 1968 na França, no Brasil e em quase
todo o mundo eram os ingredientes que contagiavam politicamente a juventude.
Meu livro não era apenas um livro de poesia. Era um documento histórico, porque
todos os seus poemas trazem uma consigna geopolítica de luta e, paradoxalmente,
uma mensagem de paz e esperança.
Há um poema chamado Requiem a um poeta
guerrilheiro, dedicado ao jovem poeta peruano Javier Heraud, assassinado
pelo exército em 1965, e que também foi uma das causas da minha expulsão do
Peru, em 1969. Depois veio minha expulsão da Colômbia e por aí vai, para dizer
que meu livro, muito mais que um livro de poesia, foi um gesto de convocação e
resistência, uma trincheira de luta e uma bandeira desfraldada por um mundo
melhor, tendo seus versos sido publicados em panfletos, jornais, grandes
revistas, cartazes, publicações académicas, livros e antologias, ao lado de
Mario Benedetti, Juan Guelmann, Jaime Sabines e outros grandes poetas
hispano-americanos.
Há também um poema chamado Saudação a
Che Guevara, que foi a causa da minha saída precipitada do Brasil, em 1969. Um
outro poema, chamado O guerrilheiro, foi dedicado a Inti Peredo, lugar-tenente
de Che Guevara na guerrilha boliviana, escrito em 1969, em Cochabamba, alguns
dias depois do seu assassinato por militares em La Paz, e que foi um dos
motivos porque fui “convidado” a deixar a Bolívia em 48 horas.
Conte um pouco mais sobre esse
episódio de Saudação a Che Guevara.
Este poema foi escrito em Outubro de
1968 para comemorar o primeiro ano da morte de Che Guevara. Por iniciativa do
livreiro José Ghignone (o Dude) foram mimeografadas 3.000 cópias e
distribuídas, pelo pessoal do Partidão, em universidades, centros académicos,
sindicatos e organizações de classe. A distribuição foi feita gradativamente
entre o fim de Outubro e o começo de Dezembro, até o dia 13, quando foi
publicado o AI-5. E daí tudo mudou. O que fazer se o poema já fora quase
totalmente distribuído e pregava a luta armada?
Nos primeiros dias de Março de 1969,
viajei ao Rio de Janeiro para um encontro com o poeta Moacyr Félix e o editor
Ênio Silveira, a fim de entregar os originais para a publicação da série Poesia
viva, que a editora Civilização Brasileira estava lançando e para a qual eu
fora convidado, depois da boa repercussão que teve meu poema Canção para os
homens sem face, recém-publicado no n° 21/22 da Revista Civilização Brasileira.
Ao voltar para Curitiba, no dia 12 de Março, encontrei no bar Velha Adega alguns amigos e entre estes o escritor e
publicitário Jamil Snege e a estudante de sociologia Elci Susko. Ela me
relatou, angustiada, que, por duas vezes, fora abordada na Faculdade, levada
por agentes de segurança e interrogada pelo delegado regional da Polícia
Federal sobre o meu paradeiro. Ele tinha em seu poder um exemplar do panfleto
“Saudação a Che Guevara” onde constava a autoria do poema e me acusava de “comunista”,
de “pregar a luta armada” e ser “um inimigo da pátria”.
Naquela época, a dois meses da
publicação do AI-5, já havia começado a “caça às bruxas”, no Brasil inteiro. Os
suspeitos de subversão eram presos, mantidos incomunicáveis e muitos começaram
a sumir. Naquela mesma noite, já em pânico com o relato da Elci e preocupado
com minha esposa e minha filha, fui aconselhado pelo Jamil a sair da cidade. No
dia seguinte, pela manhã, fui à casa do Requião, e, como já adiantei, ele abriu
o caminho para que, no dia 15 de março de 1969, eu rumasse para Assunção
recomendado para seus amigos, o pintor e escultor Angel Higinio Iegros Semidei
e os irmãos Francisco e Mario Rojas.
Apesar de editado há quase quarenta anos, o livro Poemas para la Libertad consta, na actualidade, de vários catálogos da literatura política latino-americana e muitos de seus poemas têm aparecido em várias antologias, destacando-se a POESIA LATINOAMERICANA – Antologia Bilíngüe, em espanhol e inglês, publicada em 1998 pela Epsilon Editores de México, onde é o único poeta brasileiro a partilhar suas páginas com o uruguaio Mario Benedetti, o argentino Juan Gelman, o mexicano Jaimes Sabines e outros consagrados poetas do continente.
Até
então inédito no Brasil o sucesso editorial deste livro foi quase tão grande
quanto seu considerável alcance ‘político’. Com quatro edições no exterior, a
obra estreou em Junho de 70, na Bolívia. A 2ª edição surgiu em Setembro de 70,
na Colômbia e esgotou-se em algumas semanas nas livrarias de Cali e Bogotá.
A 3ª edição, publicada em Abril de 70 en
San Diego, espalhou-se pela Califórnia e pelo Sudoeste dos EE.UU. levados pelos
estudantes e intelectuais chicanos. Por certo o sucesso destas e de outras
edições está ligado aos quatro anos de
intensa actividade ideológica que seu autor realizou pelo Continente, lendo seus
versos e promovendo debates sobre o significado político da literatura e da
arte nos inumeráveis recitais que
deu em dezenas de universidades, bem
como em teatros, galerias de arte, festivais de cultura, congresso de poetas,
instituições político-culturais, sindicatos, reuniões públicas, privadas e
clandestinas e até no interior das minas de estanho bolivianas. As primeiras
edições panfletárias, lançadas pelas Federações Universitárias de Cuzco e Arequipa, em Janeiro de 70,
ficaram conhecidas em todo o meio estudantil do Peru e percorreram a América
nas mochilas de dezenas de estudantes latino-americanos. Seus poemas foram
amplamente publicados em jornais, revistas, opúsculos, cartazes e
panfletos.
Três mil cartazes do “Saludo a Che
Guevara”, ilustrados pelo pintor boliviano Atílio Carrasco, foram editados, em Outubro de 69, pela Federação Universitária de Cochabamba, para comemorar o
segundo ano de sua morte e distribuídos por toda a Bolívia. Um trecho de seu
poema, Réquiem a um poeta guerrilheiro, dedicado ao poeta peruano Javier
Heraud, legendou o quadro Muerte, do pintor chicano Malaquias Montoya.
O texto de apresentação do livro Nos
rastros da utopia – uma memória crítica da América Latina dos anos 1970,
apresenta-o como um caminhante incansável que fez uma fantástica
peregrinação por 16 países da América. Fale um pouco dessa jornada.
É uma jornada que teve a dimensão
gráfica de 912 páginas. É difícil resumir em poucas linhas essa imensa
aventura. O que posso dizer é que na década de 1970 tudo estava no ar e bastava
o compromisso de sonhar para que os caminhos se abrissem magicamente. Contudo,
nem todas as portas da realidade se abriram aos ideais e nem todos os visionários
que lutaram por uma nova sociedade conseguiram sobreviver às suas trincheiras.
Sinto-me um privilegiado por ter
trilhado esse venturoso tempo e de poder resgatar num livro essa imensa memória
colhida em tantos caminhos, numa profunda identificação com a história e as
bandeiras revolucionárias desfraldadas pelo continente.
O meu livro é também uma reflexão
sobre os sentimentos e as emoções que marcaram a agenda daqueles anos, dizendo
da ventura de ter sido jovem nesse tempo e do desencanto de ver, actualmente,
as utopias desterradas. Falo da trágica herança dos nossos dias, de um mundo
sem norte, sem porto e de um tempo marcado pela perplexidade e os
pressentimentos. Mas ainda que nesse impasse, minha alma de poeta não abdica de
sonhar, imaginando que a misteriosa dialéctica do tempo nos reconduza a um
amanhecer, a uma aldeia de esperança, a um mundo possível e melhor." Felipe Kryminice , Revista Ideias
Justa homenagem ao poeta brasileiro Manoel de Andrade. Parabés a Livres Pensantes por esta iniciativa. Suely Reis Pinheiro
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