XII - DA EUROPA IMPERIAL AOS NOVOS IMPÉRIOS LINGUÍSTICOS
"Na época dos pioneiros da colonização, em que a língua devia ser a “companheira do império” (Nebrija) e em que nas colónias (periferias), à semelhança das metrópoles europeias, era necessário usar a língua do centro, a atitude dominante das soberanias europeias, até meados do século passado, era a de considerar que “a língua é nossa”, procurando implantá-la, ao mesmo tempo que transportavam com ela, para outros povos, a visão do mundo, dos valores e da vida que estruturalmente lhe eram inerentes. Era a política de assimilação.
Paulatinamente foram surgindo novas políticas com agrupamentos de vários países em blocos de poder, passando por diversas formulações até à formação de blocos linguísticos, aglutinados, no essencial, por uma língua aceite como comum. Surgem, neste contexto, organizações como o Instituto da Alta Cultura, o Instituto Camões, o British Council, a Alliance Française, o Instituto Cervantes, o Goeth Institut, o Instituto Confúcio, servindo não apenas para preservação e defesa das línguas a eles afectas, mas também para a sua expansão, invertendo-se a frase de Nebrija, uma vez que a partir daí é a língua que arrasta consigo o império, interpretando este num sentido simbólico.
Esta metamorfose deu-se em simultâneo com a ascensão de organizações internacionais e do Direito Internacional Público, superando a ideia tradicional de que os problemas linguísticos eram responsabilidade das academias, de acordo com a regra de que cada Estado soberano transportava esses modelos para os territórios de que era responsável. No que toca ao português, defendeu-se a existência de um organismo onde estejam em pé de igualdade todos os Estados que o adoptaram, visando a definição e prossecução de interesses comuns. Veio daí a ideia do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e da criação de uma organização internacional, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), instituições de debilidade similar, até agora. O que corresponde à transição de “a língua é nossa” para o conceito de que “a língua também é nossa”, de que fala Adriano Moreira, invocando Eduardo Lourenço. Ao arrepio de puristas defensores de sistemas de imobilidade norteados por uma visão patrimonialista da língua, a que se contrapôs uma conceção não patrimonial, consequência da mestiçagem ou crioulização a que as línguas estão sujeitas, convivendo com a corruptela decorrente do seu uso mundial, de tendência crescente à medida que aumenta o seu uso global.
No caso português, uma política pluricontinental da língua portuguesa pôs de fora o monocentrismo homogeneizador da norma metropolitana em benefício de um policentrismo da chamada lusofonia ou mundo lusófono, baseado na sua variedade de factores geográficos, antropológicos, étnicos, culturais, linguísticos, económicos, sociais, onde dada a ausência de proprietários da língua, ninguém é senhorio dela, antes ela dona e senhora de quem a fala. De uma perspectiva lusíada chegou-se a uma perspectiva lusófona, também já insuficiente, a que acresce uma perspectiva lusófila e como língua de exportação. Trata-se de uma visão estratégica para dar maior unidade e visibilidade aos falantes de português, orientando-os para fazer frente à força globalizante de outros blocos geoestratégicos e histórico-linguísticos, como a anglofonia, francofonia, hispanofonia, iberofonia, falando-se recentemente em germanofonia, na sequência da queda do muro de Berlim.
Sendo a língua portuguesa um idioma intercontinental, transnacional e global, com centenas de milhões de falantes, na sequência da sua disseminação no decurso de séculos, verifica-se que tendo tido como ponto de partida Portugal, na Europa, está hoje predominantemente implantada fora da Europa, com especial incidência na América do Sul e África. Indicia-se, assim, que a maior consolidação e expansão da presente e futura globalização da língua portuguesa será revitalizada de fora da Europa para outros continentes, nomeadamente via Brasil, “o imenso Portugal”, cantado por Chico Buarque, país de escala continental e potência emergente.
Paulatinamente foram surgindo novas políticas com agrupamentos de vários países em blocos de poder, passando por diversas formulações até à formação de blocos linguísticos, aglutinados, no essencial, por uma língua aceite como comum. Surgem, neste contexto, organizações como o Instituto da Alta Cultura, o Instituto Camões, o British Council, a Alliance Française, o Instituto Cervantes, o Goeth Institut, o Instituto Confúcio, servindo não apenas para preservação e defesa das línguas a eles afectas, mas também para a sua expansão, invertendo-se a frase de Nebrija, uma vez que a partir daí é a língua que arrasta consigo o império, interpretando este num sentido simbólico.
Esta metamorfose deu-se em simultâneo com a ascensão de organizações internacionais e do Direito Internacional Público, superando a ideia tradicional de que os problemas linguísticos eram responsabilidade das academias, de acordo com a regra de que cada Estado soberano transportava esses modelos para os territórios de que era responsável. No que toca ao português, defendeu-se a existência de um organismo onde estejam em pé de igualdade todos os Estados que o adoptaram, visando a definição e prossecução de interesses comuns. Veio daí a ideia do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) e da criação de uma organização internacional, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), instituições de debilidade similar, até agora. O que corresponde à transição de “a língua é nossa” para o conceito de que “a língua também é nossa”, de que fala Adriano Moreira, invocando Eduardo Lourenço. Ao arrepio de puristas defensores de sistemas de imobilidade norteados por uma visão patrimonialista da língua, a que se contrapôs uma conceção não patrimonial, consequência da mestiçagem ou crioulização a que as línguas estão sujeitas, convivendo com a corruptela decorrente do seu uso mundial, de tendência crescente à medida que aumenta o seu uso global.
No caso português, uma política pluricontinental da língua portuguesa pôs de fora o monocentrismo homogeneizador da norma metropolitana em benefício de um policentrismo da chamada lusofonia ou mundo lusófono, baseado na sua variedade de factores geográficos, antropológicos, étnicos, culturais, linguísticos, económicos, sociais, onde dada a ausência de proprietários da língua, ninguém é senhorio dela, antes ela dona e senhora de quem a fala. De uma perspectiva lusíada chegou-se a uma perspectiva lusófona, também já insuficiente, a que acresce uma perspectiva lusófila e como língua de exportação. Trata-se de uma visão estratégica para dar maior unidade e visibilidade aos falantes de português, orientando-os para fazer frente à força globalizante de outros blocos geoestratégicos e histórico-linguísticos, como a anglofonia, francofonia, hispanofonia, iberofonia, falando-se recentemente em germanofonia, na sequência da queda do muro de Berlim.
Sendo a língua portuguesa um idioma intercontinental, transnacional e global, com centenas de milhões de falantes, na sequência da sua disseminação no decurso de séculos, verifica-se que tendo tido como ponto de partida Portugal, na Europa, está hoje predominantemente implantada fora da Europa, com especial incidência na América do Sul e África. Indicia-se, assim, que a maior consolidação e expansão da presente e futura globalização da língua portuguesa será revitalizada de fora da Europa para outros continentes, nomeadamente via Brasil, “o imenso Portugal”, cantado por Chico Buarque, país de escala continental e potência emergente.
Tendo como referência, no mundo ocidental, a liderança actual dos Estados Unidos da América, pode-se concluir que são e serão os descendentes da velha Europa imperial os novos impérios linguísticos do futuro. O que, por analogia, está a suceder com a língua portuguesa, com perspectivas de reforço."
Joaquim Miguel De Morgado Patrício
22 de Agosto de 2016
22 de Agosto de 2016
CNC
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