quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Manoel de Andrade vem a Portugal

Manoel Andrade, poeta  brasileiro, vem a Portugal. Visitará Portimão onde é esperado por amigos e leitores da sua obra. Aí, dinamizará, no dia 14 de Outubro, uma tertúlia que  junta, mensalmente,  um grupo diverso  à volta de uma mesa para discussão de ideias, temas culturais e literários numa abordagem livre , independente e plural. O acontecimento realizar-se-á no "Velocity Bar". Posteriormente, no dia 19 do mesmo mês de Outubro, pelas dezoito horas, proferirá uma Palestra, sob o título "A América Latina nos rastos de Manoel de Andrade", na Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes, em Portimão.
A sua viagem prosseguirá por Espanha e França.
Livres Pensantes, que tem publicado vários excertos da obra deste escritor, regozija-se com a sua presença no nosso país  e saúda-o com os melhores votos.
Publica-se, hoje, uma parte da  entrevista concedida à Revista Ideias que traça um breve percurso deste grande poeta da resistência, com um passado brilhante na luta pela Liberdade.
Nesta entrevista, o poeta falou sobre a luta contra a ditadura, contou um pouco da sua obra e relembrou a sua jornada pela América Latina, que, para o autor, é o melhor lugar para se viver.
"Mais do que um poeta, Manoel de Andrade considera que seus livros não são apenas poesia. São, segundo Andrade, “Um documento histórico, porque todos os poemas trazem uma consigna geopolítica de luta e, paradoxalmente, uma mensagem de paz e esperança”.
Levando em conta o histórico do autor, é coerente considerar que um livro de poesia pode representar mais do que uma reunião de poemas. Com a publicação de seus versos, Andrade sofreu perseguição política e enfrentou resistência militar em vários países da América Latina nos anos 1970. Com a publicação de Saudação a Che Guevara o poeta teve que deixar o Brasil.
A luta e a obra de Andrade fizeram com que o autor percorresse 16 países da América Latina. A jornada está agora reunida em seu mais recente livro Nos Rastros da Utopia (2014). Antes, já havia publicado outros livros onde se incluem Poemas para a Liberdade (1970) – com tiragem esgotada em diversos países, e Cantares (2007) – seu retorno à poesia.
Como  analisa o papel que a literatura teve na luta contra a ditadura?
Ela não teve o papel que deveria ter. Os comprometimentos foram poucos. Acho que o teatro foi o grande palco dessa luta e onde se destacaram o Grupo Opinião do Rio de Janeiro e o Teatro de Arena de São Paulo. Lembro-me que, em 1965, o Grupo Opinião chegou a Curitiba com a peça Liberdade, Liberdade, trazendo em seu elenco Jairo Arco e Flecha, Tereza Raquel e Paulo Autran, de quem me tornei amigo.
A peça marcou época no teatro brasileiro e citava textos em prosa e poesia de autores famosos, para protestar contra a repressão imposta pela ditadura. Depois de minha volta ao Brasil me afastei da vida cultural e da literatura, mas percebi que, sobretudo depois do AI-5, a criação literária vivia amordaçada e desiludida de seus próprios objectivos.
Não se editavam muitos romances naquela época e, apesar do meu distanciamento, li algumas obras como Quarup e Bar Don Juan, de Antonio Callado, e Pessach: A Travessia, de Carlos Heitor Cony.

O texto de apresentação do livro Nos rastros da utopia – uma memória crítica da América Latina dos anos 1970, apresenta-o como um caminhante incansável que fez uma fantástica peregrinação por 16 países da América. Fale um pouco dessa jornada.
Ela não teve o papel que deveria ter. Os comprometimentos foram poucos. Acho que o teatro foi o grande palco dessa luta e onde se destacaram o Grupo Opinião do Rio de Janeiro e o Teatro de Arena de São Paulo. Lembro-me que, em 1965, o Grupo Opinião chegou a Curitiba com a peça Liberdade, Liberdade, trazendo em seu elenco Jairo Arco e Flecha, Tereza Raquel e Paulo Autran, de quem me tornei amigo.
A peça marcou época no teatro brasileiro e citava textos em prosa e poesia de autores famosos, para protestar contra a repressão imposta pela ditadura. Depois de minha volta ao Brasil me afastei da vida cultural e da literatura, mas percebi que, sobretudo depois do AI-5, a criação literária vivia amordaçada e desiludida de seus próprios objectivos.
Não se editavam muitos romances naquela época e, apesar do meu distanciamento, li algumas obras como Quarup e Bar Don Juan, de Antonio Callado, e Pessach: A Travessia, de Carlos Heitor Cony.
Com a publicação de Cantares (2007), você retomou a publicação de poesia depois de um longo período. Por que este intervalo?
Realmente, foi um longo intervalo. Mais de 30 anos. Algo estranho na vida de um escritor. Meu último poema, da fase latino-americana, chamado Liberdade, foi escrito em 1971, no México. Depois disso, começa um intenso período de viagens com palestras, conferências e recitais nos Estados Unidos e depois no Equador, no caminho de minha longa volta ao Chile, em Dezembro de 1971, e, meses depois, para o Brasil, em meados de 1972.
Somente voltei a escrever poesia em 2002. Ou seja, depois de 31 anos. Porquê? Fortes razões de ordem familiar me fizeram voltar, justamente na época mais perversa do regime ditatorial, obrigando-me a entrar no anonimato literário, social e profissional.
A luta contra a ditadura foi um dos motivos por esse intervalo?
De 1972 a 1975, as operações militares para acabar com a Guerrilha do Araguaia, bem como a crueldade com que os DOI-Codi iam aniquilando os quadros da guerrilha urbana, geraram o pânico entre todos aqueles militantes ou intelectuais que haviam se posicionado, na acção ou no ideário, contra a ditadura. As detenções, torturas, execuções e desaparecimentos entraram em sua fase aguda em todo o país.
Alguns meses depois de minha chegada, estava sendo procurado pelo DOPS. Transferi meu registo da OAB para Santa Catarina, com o objectivo de advogar em meu Estado. Mas também lá senti que não poderia assumir publicamente qualquer trabalho. Foi neste contexto que encontrei, em Curitiba, uma forma de trabalhar sem que os agentes da ditadura nunca soubessem onde eu estava. Fui vender a Enciclopédia Delta Larousse, numa actividade itinerante, de cidade em cidade, de Estado em Estado. Tornei-me campeão estadual e nacional de vendas, cheguei ao topo na hierarquia dos títulos, à classe gerencial e palestrante em técnicas de marketing.
Como foi o processo de retomada?
Minha retomada à criação poética aconteceu numa misteriosa circunstância. Já expliquei algures que minha volta à poesia deu-se por uma intrigante inspiração das musas. Na campanha eleitoral para governador do Paraná, em 2002, Roberto Requião – velho amigo, colega da Faculdade de Direito e companheiro de ideais na juventude –, foi covardemente acusado de inverdades e calúnias pelos seus inimigos políticos. Indignado, comecei a escrever alguns versos, relembrando o tempo em que saíamos em passeatas de protesto contra a ditadura, dos sonhos de justiça e liberdade que partilhávamos e que ele brilhantemente colocava na sua afiada oratória e eu no lirismo dos meus versos.
Lembrei-me também do caminho que me indicou, e dos amigos a quem me recomendou, no Paraguai, quando, em Março de 1969, tive que sair do Brasil, num dos momentos mais difíceis de minha vida. Todo este gesto solidário se transformou no poema Tributo, tornado público num jornal da época e que consta do meu livro Cantares. Foi com este poema que voltei a escrever poesia, em Setembro de 2002, depois de 31 anos de abstinência literária.
Consegue enxergar uma marca na literatura produzida nesses países? O que caracteriza a poesia latino-americana?
Meu interesse, naqueles anos e ainda hoje, pela literatura latino-americana sempre foi dirigido para os autores comprometidos, sobretudo com o indigenismo e as lutas sociais, e o que caracteriza essa literatura, na prosa e na poesia, é a denúncia e a resistência.
Este espaço não me permite nomear todos os autores, cujas obras estudei – e tudo isso está amplamente analisado Nos Rastros da Utopia – e que se comprometeram com essas lutas, mas me lembro aqui de Mariano Melgar, Pablo Neruda, Armando Tejada Gómez, Ariel Danton Santibañez Estay, Eliodoro Aillón Terán, Javier Heraud, Cesar Vallejo, Luis Nieto, Leonel Rugama, Tirso Canales, Roque Dalton e Otto René Castillo entre os poetas, e Oscar Soria Gamarra, José María Arguedas, Roa Bastos, Ciro Alegria, Manuel Scorza, Jorge Icaza, Miguel Angel Astúrias e Carlos Fuentes entre os prosadores.
Poemas para a liberdade teve grande repercussão, com edições esgotadas em vários países. A que  atribui esse alcance?
Este livro nasceu espontaneamente pelas mãos dos estudantes peruanos de Arequipa, em Janeiro de 1970, que propuseram gratuitamente uma edição mimeografada de 1.500 exemplares. Dois meses depois, os estudantes de Cusco lançaram duas edições, respectivamente de 700 e 1.000 exemplares mimeografados e em Junho daquele ano, em La Paz, meu livro tem sua primeira edição, de 2.000 exemplares, lançada graficamente, e sem nenhum custo para mim, pelo Comitê Central Revolucionário da Universidad Mayor de San Andrés.
Na verdade, os factos que levaram à edição boliviana de Poemas para la libertad é uma história espiritualmente misteriosa e inacreditável do ponto de vista editorial e que é contada com todos os seus detalhes no meu livro Nos Rastros da Utopia, envolvendo o jornalista brasileiro Paulo Canabrava Filho, na época militante da ALN – Aliança Renovadora Nacional – e correspondente da France Press, exilado na Bolívia, e o poeta e jornalista boliviano Jorge Suárez.
E as edições em outros países, como aconteceram?
Na Colômbia, a obra foi editada pela Nova Era, cujos 1.500 exemplares se esgotaram em poucas semanas nas livrarias de Cali e Bogotá; duas edições norte-americanas editadas em 1971, em San Diego, pela Grandma’s Camera; a edição equatoriana editada pela Universidade Central do Equador, em 1971 e, finalmente, em 2009, a edição bilíngue brasileira editada pela Escrituras.
Meus Poemas para la libertad também tiveram edições parciais na Nicarágua, em plena ditadura de Somoza, editadas pela Universidade de El Salvador e publicados, declamados e debatidos em Tampico, no México, em Fevereiro de 1971, durante as comemorações do 37º aniversário de morte de Augusto Cesar Sandino, onde participei, a convite dos sandinistas exilados no México. Dois de seus poemas – Canção para homens sem face e Canção de amor à América – foram publicados pela Revista Civilização Brasileira e o último foi comentado pelo crítico Wilson Martins ao afirmar que “é, com certeza, um dos belos poemas do nosso tempo”.
Quanto ao seu alcance e repercussão, creio que se deve ao carácter libertário dos meus versos, à imagem revolucionária que se criou em torno de minha pessoa como um poeta desterrado e expulso de vários países por minhas convicções políticas, assim como pela minha incansável militância poética, peregrinando ao longo de toda a América Latina, num tempo em que a juventude estava  mobilizada ideologicamente e, diferentemente da juventude dos nossos dias, amava realmente a poesia.
Além do sucesso editorial, o livro teve grande influência política. Essa repercussão política já era esperada?
Na década de 1970, o continente estava semeado de sonhos e esperanças. A revolução cubana, a imagem heróica do Che, as repercussões das revoltas estudantis de 1968 na França, no Brasil e em quase todo o mundo eram os ingredientes que contagiavam politicamente a juventude. Meu livro não era apenas um livro de poesia. Era um documento histórico, porque todos os seus poemas trazem uma consigna geopolítica de luta e, paradoxalmente, uma mensagem de paz e esperança.
Há um poema chamado Requiem a um poeta guerrilheiro, dedicado ao jovem poeta peruano Javier Heraud, assassinado pelo exército em 1965, e que também foi uma das causas da minha expulsão do Peru, em 1969. Depois veio minha expulsão da Colômbia e por aí vai, para dizer que meu livro, muito mais que um livro de poesia, foi um gesto de convocação e resistência, uma trincheira de luta e uma bandeira desfraldada por um mundo melhor, tendo seus versos sido publicados em panfletos, jornais, grandes revistas, cartazes, publicações académicas, livros e antologias, ao lado de Mario Benedetti, Juan Guelmann, Jaime Sabines e outros grandes poetas hispano-americanos.
Há também um poema chamado Saudação a Che Guevara, que foi a causa da minha saída precipitada do Brasil, em 1969. Um outro poema, chamado O guerrilheiro, foi dedicado a Inti Peredo, lugar-tenente de Che Guevara na guerrilha boliviana, escrito em 1969, em Cochabamba, alguns dias depois do seu assassinato por militares em La Paz, e que foi um dos motivos porque fui “convidado” a deixar a Bolívia em 48 horas.
Conte um pouco mais sobre esse episódio de Saudação a Che Guevara.
Este poema foi escrito em Outubro de 1968 para comemorar o primeiro ano da morte de Che Guevara. Por iniciativa do livreiro José Ghignone (o Dude) foram mimeografadas 3.000 cópias e distribuídas, pelo pessoal do Partidão, em universidades, centros académicos, sindicatos e organizações de classe. A distribuição foi feita gradativamente entre o fim de Outubro e o começo de Dezembro, até o dia 13, quando foi publicado o AI-5. E daí tudo mudou. O que fazer se o poema já fora quase totalmente distribuído e pregava a luta armada?
Nos primeiros dias de Março de 1969, viajei ao Rio de Janeiro para um encontro com o poeta Moacyr Félix e o editor Ênio Silveira, a fim de entregar os originais para a publicação da série Poesia viva, que a editora Civilização Brasileira estava lançando e para a qual eu fora convidado, depois da boa repercussão que teve meu poema Canção para os homens sem face, recém-publicado no n° 21/22 da Revista Civilização Brasileira.
Ao voltar para Curitiba, no dia 12 de Março, encontrei no bar Velha Adega alguns amigos e entre estes o escritor e publicitário Jamil Snege e a estudante de sociologia Elci Susko. Ela me relatou, angustiada, que, por duas vezes, fora abordada na Faculdade, levada por agentes de segurança e interrogada pelo delegado regional da Polícia Federal sobre o meu paradeiro. Ele tinha em seu poder um exemplar do panfleto “Saudação a Che Guevara” onde constava a autoria do poema e me acusava de “comunista”, de “pregar a luta armada” e ser “um inimigo da pátria”.
Naquela época, a dois meses da publicação do AI-5, já havia começado a “caça às bruxas”, no Brasil inteiro. Os suspeitos de subversão eram presos, mantidos incomunicáveis e muitos começaram a sumir. Naquela mesma noite, já em pânico com o relato da Elci e preocupado com minha esposa e minha filha, fui aconselhado pelo Jamil a sair da cidade. No dia seguinte, pela manhã, fui à casa do Requião, e, como já adiantei, ele abriu o caminho para que, no dia 15 de março de 1969, eu rumasse para Assunção recomendado para seus amigos, o pintor e escultor Angel Higinio Iegros Semidei e os irmãos Francisco e Mario Rojas.
         Nascido em Rio Negrinho, SC, e radicado no Paraná onde se formou em Direito, Manoel de Andrade deixou o Brasil em Março de 69, quando os agentes da ditadura  o procuravam pela panfletagem de seu poema “Saudação a Che Guevara”, numa época em que sua poesia começava a ser conhecida nacionalmente através de jornais e revistas como a Civilização Brasileira.  Expulso da Bolívia em fins de 69, onde chegou em Setembro daquele ano (...) preso e expulso do Peru e da Colômbia em 70, seus Poemas para la Libertad tiveram uma trajectória política e uma aventura literária que dificilmente outro livro tenha tido. Como falam de luta armada e glorificam  a  saga   de grandes guerrilheiros,  numa América Latina então controlada pela “inteligência” dos regimes militares, tinham que, quase sempre, atravessar clandestinamente as fronteiras, como foi feito com uma mala de 200 exemplares da edição boliviana, a qual chegou a Quayaquil por via fluvial, trazida  da fronteira peruana por contrabandistas equatorianos.

  
       Apesar de editado há quase quarenta anos, o livro Poemas para la Libertad consta, na actualidade, de vários catálogos da literatura política latino-americana e muitos de seus poemas têm aparecido em várias antologias, destacando-se  a POESIA LATINOAMERICANA – Antologia Bilíngüe,  em espanhol e inglês, publicada em 1998 pela Epsilon Editores de México, onde é o único poeta brasileiro a partilhar suas páginas com o uruguaio Mario Benedetti, o argentino Juan Gelman, o mexicano Jaimes Sabines e outros consagrados poetas do continente.
      Até então inédito no Brasil o sucesso editorial deste livro foi quase tão grande quanto seu considerável alcance ‘político’. Com quatro edições no exterior, a obra estreou em Junho de 70, na Bolívia. A 2ª edição surgiu em Setembro de 70, na Colômbia e esgotou-se em algumas semanas nas livrarias de Cali e Bogotá. A  3ª edição, publicada em Abril de 70 en San Diego, espalhou-se pela Califórnia e pelo Sudoeste dos EE.UU. levados pelos estudantes e intelectuais chicanos. Por certo o sucesso destas e de outras edições está ligado aos  quatro anos de intensa actividade ideológica que seu autor realizou pelo Continente, lendo seus versos e promovendo debates sobre o significado político da literatura e da arte  nos inumeráveis recitais que deu  em dezenas de universidades, bem como em teatros, galerias de arte, festivais de cultura, congresso de poetas, instituições político-culturais, sindicatos, reuniões públicas, privadas e clandestinas e até no interior das minas de estanho bolivianas. As primeiras edições panfletárias, lançadas pelas Federações Universitárias  de Cuzco e Arequipa, em Janeiro de 70, ficaram conhecidas em todo o meio estudantil do Peru e percorreram a América nas mochilas de dezenas de estudantes latino-americanos. Seus poemas foram amplamente publicados em jornais, revistas, opúsculos, cartazes e panfletos. 
         Três mil cartazes do “Saludo a Che Guevara”, ilustrados pelo pintor boliviano Atílio Carrasco, foram editados, em Outubro de 69, pela Federação Universitária de Cochabamba, para comemorar o segundo ano de sua morte e distribuídos por toda a Bolívia. Um trecho de seu poema, Réquiem a um poeta guerrilheiro, dedicado ao poeta peruano Javier Heraud,  legendou o quadro Muerte, do  pintor chicano Malaquias Montoya.
O texto de apresentação do livro Nos rastros da utopia – uma memória crítica da América Latina dos anos 1970, apresenta-o como um caminhante incansável que fez uma fantástica peregrinação por 16 países da América. Fale um pouco dessa jornada.
É uma jornada que teve a dimensão gráfica de 912 páginas. É difícil resumir em poucas linhas essa imensa aventura. O que posso dizer é que na década de 1970 tudo estava no ar e bastava o compromisso de sonhar para que os caminhos se abrissem magicamente. Contudo, nem todas as portas da realidade se abriram aos ideais e nem todos os visionários que lutaram por uma nova sociedade conseguiram sobreviver às suas trincheiras.
Sinto-me um privilegiado por ter trilhado esse venturoso tempo e de poder resgatar num livro essa imensa memória colhida em tantos caminhos, numa profunda identificação com a história e as bandeiras revolucionárias desfraldadas pelo continente.
O meu livro é também uma reflexão sobre os sentimentos e as emoções que marcaram a agenda daqueles anos, dizendo da ventura de ter sido jovem nesse tempo e do desencanto de ver, actualmente, as utopias desterradas. Falo da trágica herança dos nossos dias, de um mundo sem norte, sem porto e de um tempo marcado pela perplexidade e os pressentimentos. Mas ainda que nesse impasse, minha alma de poeta não abdica de sonhar, imaginando que a misteriosa dialéctica do tempo nos reconduza a um amanhecer, a uma aldeia de esperança, a um mundo possível e melhor." Felipe Kryminice , Revista Ideias

1 comentário:

  1. Justa homenagem ao poeta brasileiro Manoel de Andrade. Parabés a Livres Pensantes por esta iniciativa. Suely Reis Pinheiro

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