sábado, 29 de agosto de 2015

Quando morrer

LXXXIX

Quando morrer quero essas mãos nos meus olhos
quero a luz e o trigo das tuas mãos amadas
passando uma vez mais em mim sua frescura:
sentir a suavidade que mudou meu destino.

Quero que  vivas enquanto eu, dormindo te espero,
quero que os teus ouvidos fiquem ouvindo o vento, 
que cheires o aroma do mar que amamos ambos
e fiques pisando a areia que pisamos.

Quero que tudo o que amo fique vivo,
e a ti amei e cantei sobre todas as coisas,
por isso fica tu florescendo, florida,

para que alcances tudo o que este amor te ordena,
para que esta sombra corra o teu cabelo,
para que assim conheçam a razão do meu canto.

Pablo Neruda , in "Cem Sonetos de Amor - Antologia  Breve", Cadernos de Poesia, publicações Dom Quixote, 1969

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