domingo, 25 de maio de 2014

Celebrar o aniversário de Eugénio Lisboa



Máquina de Assombros

Das humildes praias deste oceano, 
te olhámos , cosmos: era o começo.
De aqui, assombros vimos: cada ano
o milagre era um recomeço.
Eugénio Lisboa , in "O Ilimitável  Oceano", Edições Quasi

"O poeta  - em sentido formal - tem, em mim, aparecido pouco e quase clandestinamente. (...)Tem-me servido a poesia - como me tem também servido a prosa, que pode ser igualmente poética - para sondar os meus assombros  e os meus fantasmas: que são muitos e nunca inteiramente resolvidos." 
Assim o declara Eugénio Lisboa, o mais activo escritor português, em constante produção literária nas mais diversas formas.  Nasceu a 25 de Maio de 1930. Faz , hoje, 84 anos,  neste último Domingo de Maio. Um mês que nos saúda diferentemente. Tempo da Primavera onde moram os verbos renascer, florescer, crescer. Mês assertivo porque convive, também, com  explodir, confrontar, criar. Eugénio Lisboa é um criador que nos confronta, obstinadamente,   com uma excelente e longa explosão literária.
Lê-lo é reaprender  tudo o que nos ensinaram ou o quanto que descobríramos. A forma mágica e inteligente com que aborda qualquer tema, faz dele, além de um dos maiores escritores da actualidade , um excepcional pedagogo, um insigne Mestre. Com um percurso notável que vai desde a especialização em  Engenharia, Ensino Universitário em vários países a Conselheiro Cultural em Londres , sempre a par de uma intensa  actividade literária como pensador, crítico literário, poeta, escritor, ensaísta, cronista, Eugénio Lisboa continua enérgico e imparável.(1) 
Questionado sobre qual a actividade que prefere desenvolver, escolhe, sem hesitação,  o ensino. Ser Professor é o exercício que mais o apaixona e motiva. Interceptámo-nos, aí, nesse vértice. Como professora, tive, na sua produção ensaística, o apoio para enfrentar muitos desafios. Foi, muitas vezes, o meu dicionário de consulta ou o manual de aprendizagem. Como leitora, fiz de Eugénio Lisboa o meu escritor de eleição. A sedução da sua escrita capturou-me para sempre. 
Actualmente, está a escrever o IV volume das suas memórias, "ACTA EST FABULA IV", tomo referente ao período que medeia entre 1976 e 1995, e que deverá ser publicado este ano, pela editora Opera Omnia.
Eugénio Lisboa considera difícil definir cultura de forma competente e abrangente, pelo que prefere  utilizar as palavras de Ortega y Gasset: "  A cultura não é a vida na sua totalidade, mas apenas o seu momento de segurança, força e claridade."
Em Eugénio Lisboa encontramos esse momento. A cultura vive nele de uma forma tão intensa que nos deslumbra e contagia. Ouvir Eugénio Lisboa é escutar a voz profunda de um saber feito de muito conhecimento.
A Música deste Domingo pretende saudar este grande nome das letras e repetir ao amigo o quanto me preza e honra conhecer. 
Numa crónica sobre a cantora June Tabor, escreveu o seguinte:“Tenho visto muita pintura, escultura e desenho, como tenho ouvido muita música, e  até possuo uma discoteca considerável. Mas não tenho educação musical, num sentido técnico.
Tenho obsessões e vaidades como, por exemplo, possuir os 180 CDs, que compõem. na edição da Philips, a obra completa de Mozart. Tenho, neste sector, um gosto ecléctico: música clássica, jazz, música folclórica (alguma),  fado, música dos Beatles, do Zeca Afonso, da Edith Piaf, do Jacques Brel, do Regiani, da Béatrice Arnac e tutti quanti. (...) 
Com Tabor, estou um pouco à vontade porque ela, como eu, também não tem o que se chama educação musical. Usa o ouvido, a imaginação, a emoção, a obstinação, o talento e a alma. Estas coisas acontecem.(...) June Tabor leva-nos, sem vergonha, aos primórdios, àquelas grandes emoções primárias e fundadoras, de que os “sofisticados” têm tanta vergonha."
A Eugénio Lisboa , em jeito de gloriosos votos  de PARABÉNS, apresentamos dois excelentes registos  musicais.
- “Davide Penitente KV 469” de Wolfgang Amadeus Mozart, pela Orquestra Scarlatti Di Napoli, dirigida pelo  Maestro Gaetano Cuccio Pellegrini. As vozes são de Maria Grazia Schiavo, soprano, Letizia Colajanni, soprano, Domenico Ghegghi, tenor e o coro Ensemble Vocale di Napoli .

- A voz de June Tabor  acompanhada por  Iain Ballamy ( saxofone)  e Huw Warren ( piano), em  “ Near But Farway”.



(1) - No dia 20 deste mês, foi apresentada, no programa Mar de Letras, na RTP África, uma entrevista a Eugénio Lisboa que pode ser visualizada integralmente, aqui, por intermédio deste link: http://www.rtp.pt/play/p842/e154608/mar-de-letras

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