quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Tempo de Poesia




Era Tempo de Poesia

Era, tempo de Poesia, o riso interrompido
Antes de ser a gargalhada aberta.
Era o intumescer dos vasos numa flor
Antes que, num espreguiçar, desabrochasse.
Era a cólera explodida contra o crânio
Antes de a mão se erguer, a boca abrir.
Era o sabor na língua demorado
Antes de o fruto ser apenas alimento.
Era a palavra, antes de ouvida, inviolada:
Marés de sangue e Lua desejada.

M. António, "50 Poemas", Ed. nósSomos

Composição Linear com Mancha Azul

Constituo teus símbolos: O azul
( O lenço que emoldura o teu sorriso)
E qualquer coisa simples: O conciso
Recorte do vestido, o vento Sul
Que traça sugestões de céu e mar
Em curvas que te moldam.

                                 Uma cor
E mais nada. Uma cor, e a fechar
O universal abraço, a geometria
Pura. A linha curva, longa, certa
Em que se exprime uma ânsia maior.
A que define a noite como odia.
A que povoa a imensidão deserta.
Uma linha, uma cor. Na concisão
Dos símbolos, o amor.


M. António, "50 Poemas", Ed. nósSomos

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