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"Entrem ventos, luar, sol, chuva , estrelas,
No palácio abandonado,
Sem telhas no telhado ,
Sem vidros nas janelas...
Que os vidros se estilhaçaram,
O telhado me voou,
E, pelos mil caminhos que ante mim se desdobraram,
sob as bençãos e as cóleras do céu,
Parti!, lá vou
Entre ventos, luar, sol, chuva, estrelas..."
( Assim cantava eu,
Com vozes enfunadas como velas,
E audácias e garbo, herdados
Do tempo das caravelas...)
Ai! há que séculos foi!
Vida! vida sarcasta,
Brutal, terrível madrasta
Dos filhos que mais te querem!:
Que fizeste daquele pobre herói
Que sonhava os reptos de Hércules,
E sorria com olhos de veludo?
Que fizeste daquele pobre herói?
-Fi-lo herói a valer...: tirei-lhe tudo:"
José Régio, " O Fértil Desespero ,in As Encruzilhadas de Deus" ,
in "José Régio por Eugénio Lisboa", Colecção Poetas de Ontem e de Hoje,
Livraria Tavares Martins, Porto /1957
No primeiro Domingo de 2014, as propostas fundem-se em harmoniosa parceria: a Poesia de um poeta maior, José Régio, e a Música do grande Wolfgang Amadeus Mozart, em Horn Concerto nº 4, in E- flat major K. 495 ( 1786), com a excelente interpretação do virtuoso trompetista russo, Sergei Nakariakov.
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