"Se a palavra desistiu de ser um apelo
e sabe que não é mais que um fogo-fátuo
é porque a sua fragilidade ainda cintila
como um princípio que em si mesmo se consuma"
António Ramos Rosa, in "Se a Palavra desistiu de ser um apelo", "As Palavras", Ed. Campo das Letras
e sabe que não é mais que um fogo-fátuo
é porque a sua fragilidade ainda cintila
como um princípio que em si mesmo se consuma"
António Ramos Rosa, in "Se a Palavra desistiu de ser um apelo", "As Palavras", Ed. Campo das Letras
Numa semana em que desapareceram dois grandes poetas, o colombiano Álvaro Mutis e o português e algarvio António Ramos Rosa, a Música deste Domingo leva-nos também ao talento de um grande artista português desaparecido precocemente.
"O pianista e compositor Bernardo Sassetti morreu aos 41 anos, em Maio de 2012. Segundo a família, que confirmou a morte , Bernardo Sassetti estava a fotografar numa falésia, no Guincho, e caiu. Bernardo Sassetti nasceu a 24 de Junho de 1970, filho mais novo de Sidónio de Freitas Branco Pais e de Maria de Lourdes da Costa de Sousa de Macedo Sassetti. Era bisneto de Sidónio Pais. Iniciou os estudos de piano clássico aos nove anos, tendo frequentado também a Academia dos Amadores de Música. Em 1987, iniciou-se profissionalmente no jazz, estudando com músicos como Zé Eduardo, Horace Parlan e Sir Roland Hanna, e tocando com o quarteto de Carlos Martins e o Moreiras Jazztet.
"O Bernardo [Sassetti] era uma personalidade, um iluminado, com grande energia, muito acima das coisas materiais", disse Pedro Costa da Clean Feed, acrescentando: "Com ele nunca falei de dinheiro".
"Foi a pessoa mais generosa que eu conheci", sublinhou emocionado o editor discográfico.
"Ele tinha um grande compromisso com a música, um perfeccionista, músico excepcional porque autêntico", afirmou.
"O Bernardo [Sassetti] trouxe uma lufada de ar fresco porque ele era o que tocava, e ficava admirado quando as pessoas lhe diziam que a sua música era triste porque era tão bela, quando era de uma grande alegria e iluminada", afirmou.
O editor referiu a paixão de Sassetti pela fotografia, tendo sido autor das capas de todos os seus álbuns editados pela Clean Feed."
A intemporalidade de uma obra atinge-se quando ultrapassa a finitude da vida. A Poesia de António Ramos Rosa e a Música de Bernardo Sassetti continuarão a iluminar os nossos dias.
Bernardo Sassetti compôs e interpretou a banda sonora de "Uma coisa em forma de assim", um espectáculo da Companhia Nacional de Bailado, estreado em 2011. Clara Andermatt, Francisco Camacho, Benvindo Fonseca, Rui Lopes Graça, Rui Horta, Paulo Ribeiro, Olga Roriz, Madalena Victorino e Vasco Wellenkamp foram os co-criadores da peça.
Numa entrevista a Maria João Seixas, Bernardo Sassetti descrevia-se como "um terrestre que caminha de uma forma muito aérea, muito suspensa, à procura de qualquer coisa, sobretudo na música, que ainda não sabe muito bem o que é.
"E isso inquieta-me o espírito. Sempre. Vivo com esta inquietação vinte e quatro horas por dia", afirmou na altura o músico.
"Promessas" do Álbum Índigo, de Setembro de 2003, traduz essa inquietação.
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