Neste segundo Domingo do ano 2013, cantar em português é preciso. Num Portugal crísico, nem a língua escapa à voragem do tempo, assaltada por um acordo ortográfico que desfigura e apaga os vestígios etimológicos de cada palavra. Um Portugal que teima em esvair-se e deixar-nos órfãos num mapa que julgávamos nosso e que , de deriva em deriva, se arrasta para se afundar por novas fronteiras.
A voz e o poema de Tiago Bettencourt , um cantor jovem e talentoso, em " Eu esperei", uma canção para ouvir e pensar. Acorda Portugal. Acorda.
A voz e o poema de Tiago Bettencourt , um cantor jovem e talentoso, em " Eu esperei", uma canção para ouvir e pensar. Acorda Portugal. Acorda.
Eu esperei
Mas o dia não se fez melhor
Mas o sujo não se quis limpar,
Inventou mais flores em meu redor
Como se eu não fosse olhar!
Enfeitou as ruas para cobrir
Terra seca de não semear
Deram-me água turva a beber
Dizem cura e força e solução
Como se eu não fosse olhar!
Eu esperei
Mas o fumo não saiu da estrada
Arde o sonho em troca de nada
Dizem festa, mas é solidão
Como se eu não fosse olhar!
A mentira não se fez verdade
E a justiça não se fez mulher
A revolta não se faz vontade
Braços novos sem educação
Sangue velho chora de saudade!
Eu esperei
Dizem luta mas não há destino
Dão-me luzes mas não é caminho
Dizem corre mas não é batalha
Como quem não quer mudar!
Esta corda não nos sai das mãos
Esta lama não nos sai do chão
Esta venda não deixa alcançar.
Cantam "armas" mas não é amor
Mão no peito mas não é amar
Cavaleiro mas sem lealdade
Fato justo mas já sem moral
Braços justos que se vão esconder
Braços fracos não são de lutar
Braços baixos não se querem ver
Como se eu não fosse olhar!
Eu esperei
Pelo tempo transparente em nós
Pelo fruto puro de escolher
Pela força feita de alegria
Mas o povo dorme na ilusão!
E a tristeza é forma de sinal
Liberdade pode ser prisão...
Meu Deus, livrai-nos do mal
E acorda Portugal
E acorda Portugal...
Tiago Bettencourt
O futuro irá trazer-nos um Portugal "sem portugueses", sem patriotismo, sem amor ao chão, sem gente que ame o longínquo sentido de pertença, sem gente que adore a terra, o espaço onde nasceu!...
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