Manoel de Andrade com a mulher (Neiva de Andrade), no Cabo de São Vicente ( Promontório de Sagres) , Portugal |
Sobe à colinaolha o poente e o mar -verás a eternidade.Sorri à florcapta o insensível do seu odor -sentirás a eternidade.Pára, escuta o inescutável do Serausculta a melodia do Cosmos -captarás a eternidade.José Nuno Pereira Pinto,Que Passem Sorrindo - Poesia reunida
A palavra , na poesia , foi e será sempre a mais bela forma de resistência contra um mundo desumano, e um profético aceno para um tempo melhor.
Manoel de Andrade, Poesia e Oralidade , in As Palavras no Espelho
Sempre que se celebra o aniversário de um poeta é a magia da palavra que se louva. E se esse poeta cantou a vida e promoveu a condição humana, é a força do verso que se homenageia.
Manoel de Andrade, o poeta brasileiro de Curitiba , faz hoje 81 anos. Como dizer-lhe em palavras o que as palavras não sabem dizer, se é ele o poeta.
Manusear a palavra, tecê-la em linha ou afundá-la num mar de tantas outras que, cadenciadamente, esperam o ritmo de uma melodia antiga , só ao poeta a musa permite. Um cântico secular , de um remoto passado que, de voz em voz , se difundia até Gilgamesh, o primeiro registo, se revelar nas célebres e decifradas placas de argila.
Nos primeiros tempos da descoberta do alfabeto, afirma Vallejo, os poemas ainda nasciam e viajavam pela via oral, mas alguns bardos aprenderam o traçado das letras e começaram a transcrevê-los em folhas de papiro ( ou ditaram-nos) como passaporte para o futuro. Talvez então alguns começassem a tomar consciência das inesperadas implicações daquela ousadia. Escrever os poemas significava imobilizar o texto, fixá-lo para sempre.
Num magnífico ensaio, o aniversariante Manoel de Andrade acrescenta: Um fenómeno não pode excluir o outro e é tão importante valorizar a tradição oral da poesia , quanto reconhecer que sem a escrita , parte de todo o acervo histórico se perderia com o tempo.
Os poemas de Manoel de Andrade , longe dessa época primeva, brindam-nos pela beleza de vários registos. Estão fixados para sempre e traduzem o longo e rico itinerário de um grande poeta. Abrir um dos seus livros é soltar um poemário de infindo fascínio e de talentosa arquitectura. Há , no entanto, uma repetida e incessante melodia que nos convida. São sons de uma Sinfonia ou talvez de uma ininterrupta Cantata que nos capturam , nos intimam e nos revelam de quão importante é a poesia. Ela vai para além do imanente. Vê o que não é visível, desenha o que não se traça, descobre o que se esconde, sabe o que se desconhece. Ser arauto é a sua primeira e última função. Arauto de um tempo poético que fica e ficará como o gérmen de uma visão e de um sentir do mundo.
Ao poeta , que tanto me fascina, ficam, aqui, os maiores votos de continuado labor poético e a gratidão de me ajudar a decifrar o mundo.
Bem-Haja, Manoel!
Quem sou eu para te ajudar a decifrar o mundo. É pela tua editoria que tenho achado os belos recantos da música, da poesia e os enredos mais bem escolhidos da literatura. Requinte e fascínio, essas são as fronteiras da tua aldeia, onde fazes meus versos transitar há tantos anos. Sim, os poetas vivem na magia das palavras porque a poesia é o mais legítimo passaporte para o encanto, para o farol da beleza. Muito me gratifica esta imagem no Promontório de Sagres. É o retrato de uma imensa saudade que me prende ao Algarves, qual uma península ligada ao meu coração. Obrigado por estes votos fraternos e pelas palavras que tão sabiamente sabes dizer.
ResponderEliminarManoel de Andrade
Tanta gentileza, poeta. Como agradecer? Apenas com a certeza de sempre brindar à beleza dos seus poemas.
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