segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Aviso talvez já tardio


Aviso talvez já tardio
por Eugénio Lisboa

Acabo de receber uma bela reportagem fotográfica sobre África, onde vivi, ao todo, trinta e oito anos inesquecíveis. Mas, a esta reportagem sobre o meu continente natal, fiz o doloroso comentário que transcrevo e que em muito transcende o que se passa no continente africano:

"A África é colorida, quente, generosa e mal governada. Foi mal governada por brancos e é pior governada por negros. Os brancos exploravam, os negros saqueiam. Mas a África é grande e bela, os homens é que dão cabo dela. Gosto mais do leão, da gazela, do elefante, da girafa, do camelo, do que gosto do homem. Os bichos não destroem a vida no planeta. Os bichos estão só no planeta. Os homens apropriaram-se do planeta. Quando o homem se tornou inteligente, a vida no planeta começou a ficar ameaçada. Quando o homem se tornou muito inteligente, a vida no planeta começou a definhar. Quando o homem se tornou ainda mais inteligente, a vida no planeta começou a chegar ao fim. Na obra de Dostoiewsky, o homem inteligente é uma representação do diabo. Talvez tenha razão. Aliocha era a bondade que salva e cura, mas Ivan era a inteligência que perverte e destrói. São duas personagens de OS IRMÃOS KARAMAZOV, espantosa fábula premonitória."
Eugénio Lisboa, 28.11.2021

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