Che Guevara |
Saudação a Che Guevara
No sonho da liberdade
onde cada mártir renasce,
onde não há homem sem terra
onde não há povo sem face.
Num tempo..., gesto de sangue
no sangue..., gesto de amor,
no amor de quem se deu
como um perfume de flor.
E nessa flor de montanha
aberta pro continente,
nesta beleza tamanha
na minha fé deslumbrante
tu estás, meu Comandante,
numa saudade bem clara
dos que morrem e que renascem
contigo, Ernesto Guevara.
No nosso ódio indigesto
na voz da rebelião,
na passeata de protesto
em cada homem sem pão,
em cada cidadão livre
que é metralhado na rua,
no seio de cada greve
no salário de quem sua,
na opressão e na fome
nesse mal que nos consome
como farol claro e forte
surge tua imagem, teu nome
teu braço de guerrilheiro
teu sonho e tua verdade
nos apontando o roteiro
em busca da liberdade.
Nas pátrias negociadas
desta América sofrida,
na ditadura instalada
na terra não repartida,
em toda prisão injusta
em todo estudante morto
em cada homem sem rosto
de quem outro vive à custa.
No massacre dos mineiros
e na luta que liberta.
Nos punhos do militante
e na rubra flor do combate,
tu estás, meu Comandante.
Enquanto a noite se escorre
na garganta da ampulheta
as gerações se preparam
para a estação da colheita.
A semente está brotando
na flor da revolução
e a consciência do povo
vai tomando posição.
Tu semeaste a bom tempo
os grãos dos frutos por vir
que levados pelo vento
no estampido dos metais
brotam nos campos ao sul
das terras continentais.
Adios, adios, hasta siempre
meu imortal Comandante...
na terra há flores se abrindo
no peito a fé triunfante
no tempo um caminho aberto
e nele os homens sorrindo
num largo gesto de hermano
na busca de um mundo novo
da pátria purificada
para a alegria do povo.
Curitiba, Outubro de 1968
Manoel de Andrade, in " Poemas para a Liberdade, Edição Bilíngue, Editora Escrituras, São Paulo Brasil
Nota de Livres Pensantes
Manoel de Andrade foi perseguido após a divulgação deste poema. A ditadura militar, que martirizava o Brasil, não permitia quem saudasse Che Guevara e ainda menos quem aspirasse à Liberdade. Manoel de Andrade foi obrigado a abandonar o Brasil, a exilar-se e iniciar uma longa diáspora pela América Latina.
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