Ponta Delgada, 10 de Junho de 1995
"Dia de Camões. Luís Vaz de Camões, de seu nome de baptismo. Dia santo de guarda do Poeta que, arriscando daquela vez a vida e o destino por mares meridionais, entre muitas e extraordinárias aventuras, salvou a nado uma epopeia.
O caso do português-emigrante, resumo e paradigma do " enigma português", destinado a ser " mais do que lhe permitia a força humana". Muito mais do que permitia o tamanho da Pátria onde nasceu. E como lhe pagou então a Pátria? Como tantas vezes as pátrias costumam pagar: com a ingratidão - desconsiderando-lhe os méritos, renegando-o como profeta, consentindo fosse a enterrar, pobre e sozinho, embrulhado num lençol de estamenha.
Ultimamente, por mor de aliviar o peso da má consciência, a Pátria brinda-o neste dia , oferecendo em seu nome dez mil cruzados novos de prémio aos poetas de todas as latitudes - os juros acumulados de um capital antigo que a Nação lhe devia e nunca lhe pagou em vida."
Fernando Aires, in Era uma vez o Tempo, Diário (1982-2010) , Editora Opera Omnia, Outubro 2015 , pp. 569-570
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