Tenho uma sede imensa,
mas não é de água…
Tenho uma sede imensa de beber
os soluços do Sol quando declina,
as carícias azuis do Luar de Agosto,
os tons rosa da Tarde que se fina…
É que eu seria poeta, se os bebesse…
Não mais seria o cego de olhos limpos;
esse que viu a água e a não tocou,
pelo estranho pudor da sua boca
que um dia blasfemou.
E, se eu pudesse beber
esses longes de mim que vejo e quero,
em espasmos havia de os mudar
e, num desejo nunca satisfeito,
iria possuir-te, ó Mar!
Havia de cair, num beijo sobre ti;
despir as minhas vestes de serrano,
tirar de mim aquilo que é humano,
E confundir-me em ti.
Gritem depois, embora, que eu morri;
alegre o Mundo o alívio do meu peso;
- que um dia o Sol há-de surgir mais cedo
e o bom menino de olhos azuis,
de quem sou fraco arremedo,
há-de nascer, ó Mar, da nossa noite de Amor!
E tu, Menina que eu chamava,
Menina que eu chamava e encontrei
Mas abrasada no Amor divino
- tu hás-de ver então que o Céu que idealizas
É o olhar azul desse menino.
Sebastião da Gama (1924
– 1952), in “Serra - Mãe”, Ed. Ática ,1957
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