a minha amada vem de longe
traz os olhos verdes
poisados na relva
e na flor das águas
(entrarei dentro deles
para conhecer todas as paisagens)
vestida de sol
despida de angústias
porque vem de longe cerca de meio-dia
para estar comigo
dar-me os alimentos os frutos e os sumos
vem a minha amada
cabelos de vento
a meio-caminho
estou à espera dela
entre ferro e casas
muros grades sombras
com olhos num livro
vem pelo alcatrão
no navio azul de muitos sentidos
traz o corpo largo
coberto de franjas
bordado com fios
desde o ombro à anca
como anca um lírio
vem a minha amiga
correndo ao meio-dia
vem a sua voz
mais mansa mais funda
que pomba ou que lua
uma taça cheia
de plumagens brancas
de rola e de espuma
gazela de linho
correndo ligeira
com véus e perfumes
vem a minha amiga
por entre coqueiros
na manhã caída
traz no peito aberto
um relógio azul
a contar as horas
que vai estar comigo
Lourenço de Carvalho,in minha ave africana, Tempográfica, Lourenço Marques, pp.17-20
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