«Um homem que lê, ou que pensa, ou que calcula, pertence à espécie e não
ao sexo; nos seus melhores momentos escapa mesmo ao humano.»
Marguerite Yourcenar, Memórias
de Adriano, p.57
Troianos
São nossos
esforços, os dos infortunados;
são nossos
esforços como os dos troianos.
Conseguimos
um pouco; um pouco
levantamos a
cabeça; e começamos
a ter coragem
e boas esperanças.
Mas sempre
surge alguma coisa que nos pára.
Aquiles junto
do fosso à nossa frente
surge e com
grandes gritos assusta-nos.-
São nossos
esforços como os dos troianos.
Cuidamos que
mudaremos com resolução
e valor a
contrariedade da sorte,
e estamos cá
fora para lutar.
Mas quando
vier o momento decisivo,
o nosso valor
e a nossa resolução perdem-se;
a nossa alma
fica alterada, paralisa;
e em redor
das muralhas corremos
à procura de
nos salvarmos pela fuga.
Porém a nossa
queda é certa. Em cima,
nas muralhas,
já começou o pranto.
Choram pelas
memórias e os sentimentos dos nossos dias.
Amargamente
choram por nós Príamo e Hécuba.
Konstantinos Kavafis, in Poemas e Prosas, Relógio
d'Água, p.33
Poema
«Com o suor
do teu rosto ganharás
o teu pão»,
escreveram no teu berço.
Dormiste,
respiraste e, um dia,
escarneceram
do suor do teu rosto.
É hoje,
quando tu, filho de Europa,
expulso da
seara do teu trigo,
em todos os
muros vês escrito
que o suor é
vão, e o teu rosto negado.
Fiama Hasse Pais Brandão, in Cenas Vivas, Relógio
d'Água, Abril de 2000, p. 16.
Sem comentários:
Enviar um comentário