Gratidão que nem sabe a quem deve ser grata
Gratidão de ser
por estes anos
e partículas restantes.
Pela amizade,
que chega a confundir o amor.
Pela bondade,
que torna a solidão desvalida.
Pela hombridade,
à altura do céu.
Pela beleza,
que só à santidade
sobrepassa.
E é flagrante, perdulária,
noutro renascente.
Gratidão
que nem sabe
a quem deve ser grata.
Pelas aves nutrindo os filhos
de penugem e voo.
Pela lentidão escrupulosa
da tartaruga, igual à de Plutão.
Pela leveza materna do vento
transportando pólen.
Pelo calor humílimo
da joaninha sobre a nossa mão.
E por estar na terra
uma só vez, ao sol,
nada pedindo, nenhum segredo,
como um velho lobo-do-mar.
Gratidão de ser
por estes anos
e partículas restantes.
Pela amizade,
que chega a confundir o amor.
Pela bondade,
que torna a solidão desvalida.
Pela hombridade,
à altura do céu.
Pela beleza,
que só à santidade
sobrepassa.
E é flagrante, perdulária,
noutro renascente.
Gratidão
que nem sabe
a quem deve ser grata.
Pelas aves nutrindo os filhos
de penugem e voo.
Pela lentidão escrupulosa
da tartaruga, igual à de Plutão.
Pela leveza materna do vento
transportando pólen.
Pelo calor humílimo
da joaninha sobre a nossa mão.
E por estar na terra
uma só vez, ao sol,
nada pedindo, nenhum segredo,
como um velho lobo-do-mar.
António Osório , in “ O lugar do Amor”,Gota de Água, Porto, 1981
No prefácio do livro “A Ignorância da Morte” de António Osório, Eugénio Lisboa afirmou : «[...] no seu modo mansamente inovador, apetecidamente lento e meticuloso, no seu progredir musicalmente inventariante, no seu fascinante realismo mítico, aladamente terrestre e distanciadamente afectuoso, uma das vozes mais fortes, mais isoladas, mais inquietantemente pessoais e mais complicadamente directas que nos tem sido dado conhecer, de há alguns anos a esta parte.»
Cada Segundo
Não desejo a indigência,
a serenidade
dos lugares desertados:
desejo que cada segundo
quando amo
explodisse
e fosse a terra
em sua expansão
durante a primeira noite,
a gestante,
do mundo.
António Osório, in “O Lugar do Amor",Gota de Água, Porto, 1981
a serenidade
dos lugares desertados:
desejo que cada segundo
quando amo
explodisse
e fosse a terra
em sua expansão
durante a primeira noite,
a gestante,
do mundo.
António Osório, in “O Lugar do Amor",Gota de Água, Porto, 1981
António Osório de Castro nasceu em Setúbal, a 1 de Agosto de 1933 .Fixou-se em Lisboa, após a conclusão do curso de Direito, onde passou a exercer advocacia. Foi bastonário da Ordem dos Advogados entre 1984 e 1986, Administrador da Comissão Portuguesa da Fundação Europeia da Cultura e Presidente da Associação Portuguesa para o Direito do Ambiente. Dirigiu a Revista de Direito do Ambiente e do Ordenamento do Território, que fundou, e o Foro das Letras, revista da Associação Portuguesa de Escritores-Juristas.
Tem uma imensa obra poética publicada e é um dos grandes poetas portugueses da actualidade.
"Ser poeta é ser mais alto", deixou escorrendo dos seus versos Florbela Espanca... António Osório, um poeta em relevo nos dias de hoje, igualmente nos chama a atenção através da sua poesia para a "altura" que a voz de um poeta pode atingir, e pela mobilidade que pode gerar em nós e nos outros!E igualmente aquela estranha inquietação pessoal que só um poeta nos pode comunicar, contagiar... - V.P.
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