Eh! laranjinha, ´aranjinha boa
mia siôa!
Vem de longe, do Catete,
onde há batuque e quitende.
Vem de longe o seu sorriso,
sorriso que se intromete
sem querer nos olhos da gente..
Vem de longe o seu sorriso
sempre fresco, sempre aberto.
E o passo ligeiro, certo,
batendo a terra encarnada
já quente ao sol matutino,
revela em cada pegada
o mover airoso, fino,
de uma rainha ignorada.
Leva colar de missanga,
panos de garrida cor.
E nos lábios - a verter
tom de madura pitanga -
a promessa de um amor
que é razão do seu viver.
Leva colar de missanga
panos de garrida cor.
Eh! laranjinha, ´aranjinha boa
mia siôa!
Cantando caju ou manga,
maboque, ananás, mamão,
Alta e baixa de Luanda,
o Muceque e Sambizanga
reconhecem-lhe o pregão.
E afirmam certos poetas
que a magia dessas cores
que lhe enfeitam a quitanda,
se derramou das paletas
de exotissimos pintores.
Dengosa p´la estrada fora,
mal irrompe o claro dia,
com tanta graça apregoa
que a própria aurora
é nela que se anuncia!
Eh! laranjinha, ´aranjinha boa
mia siô...ô...a!
Maria Eugénia Lima, Angola , in " Primeiro Livro de Poesia ", Poemas em Língua Portuguesa para a infância e a adolescência, Selecção de Sophia de Mello Breyner Andresen, Ilustrações de Júlio Pomar, Editorial Caminho, 1991.
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