terça-feira, 5 de outubro de 2010

A proclamação da República


 

Às  8,30 da manhã passava pela Rua do Ouro, em triunfo, a artilharia, que era delirantemente ovacionada pelo povo.
As ruas acham-se repletas de gente que se abraça. O júbilo é indescritível!
A essa hora, no castelo de S. Jorge, que tinha a bandeira azul e branca, foi içada a bandeira republicana.
O povo dirigiu-se para a Câmara Municipal, dando muitos vivas à REPÚBLICA, içando também a bandeira republicana.
O povo em massa dirigiu-se aos quartéis dos Paulistas, Carmo e Rua da Estrela, onde foram içadas as bandeiras brancas, dando vivas à república e à pátria, que eram correspondidos entusiasticamente pelos soldados. Às 8,20 as forças que estavam no Rossio entregaram-se , aclamando –as o povo em delírio. À hora que escrevemos , os navios estão salvando à bandeira republicana. O “S. Paulo” salvou igualmente.
Vê-se muita gente no Castelo de S. Jorge acenando com lenços para o povo que anda na baixa. Os membros do directório foram às 8,40 para a Câmara Municipal, onde proclamaram a República com as aclamações entusiásticas do povo.
O governo provisório consta será assim constituído: presidente, Teófilo Braga; interior, António José de Almeida; guerra, Coronel Barreto; marinha, Azevedo Gomes; obras públicas, António Luís Gomes; fazenda, Basílio Teles; justiça, Afonso Costa ; estrangeiros, Bernardino  Machado.
Governador Civil, Eusébio Leão.
Em quase todos os edifícios estão tremulando bandeiras republicanas. A polícia faz  causa comum com o povo , que percorre as ruas conduzindo bandeiras e dando vivas à República."

In  Jornal “O Século “, 3ª Edição, Quarta-Feira, 5 de Outubro de 1910



Proclamação da República na Câmara Municipal de Lisboa

Telegrama de Guerra Junqueiro

Ao Governo Provisório da República Portuguesa . – Lisboa – Saúdo na República a libertação magnânima e sublime do grande povo português. Um bando de heróis extraordinários remiu-nos a todos do cativeiro. A amada pátria desabrocha vitoriosamente em flor de luz , em flor de ideal. Glória eterna aos vencedores, paz e perdão aos vencidos. Confrangem-me a alma tantas desgraças e tanto sangue derramado. Mas, entre as mortes , há uma , a de Cândido dos Reis, que me  banha de lágrimas ardentes, que me atravessa de dor o coração. Pavoroso destino o dessa figura augusta, uma das mais altas e nobres que conheci sobre a terra! Esperemos agora que a República seja sinónimo de ordem e de harmonia, de inteligência e de trabalho, de amor e de justiça, de liberdade e de beleza, para que a história de Portugal resplenda no mundo novamente.
Viva a pátria republicana! Viva Lisboa, a cidade heróica! –a) Guerra Junqueiro.

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