um enredo que anuncia a tempestade
e a bonança...?
ah! a bonança é um barco num medonho temporal!
é a frequência subliminar que domina o mundo,
a combustão da história,
o trágico espasmo da vida,
o tumulto e a fúria linchando as derradeiras utopias.
entre a incredulidade dos “sábios” e a fé de uma criança,
transita a expectativa dos homens...
São dias sem bandeiras,
quando a verdade se envergonha da “justiça”,
as togas e os mandatos acumpliciados na ambição,
os crimes lavados na corte dos “eleitos”
e os vilões absolvidos nesse palco de trapaças.
Até quando assistiremos a esse fatídico cenário?
Quem apagará as luzes dessa medonha ribalta?
Até quando, Senhor, suportaremos tanta ignomínia?
a corrupção gargalha da história.
Nos palanques da ilusão,
máfias partidárias e alianças promíscuas
maquiam seus patéticos contendores.
contra a voz meiga e solitária da esperança.
É um ritual insuportável,
onde o poder trama as suas dinastias,
as ideologias são negociadas
e nas tribunas se mascara a hipocrisia.
Eis o reduto oficial dos futuros saqueadores,
festejando sua agenda eleitoral em sórdidos banquetes,
ante a súplica inconsolável no olhar dos miseráveis.
não aceito o silêncio,
sou a acusação e a profecia
vivo num tempo de iniquidades e presságios,
numa pátria humilhada pela impunidade,
comandada por homens sujos e soturnos
e eis porque hoje meu canto surge assim crispado,
testemunhando o impasse e esperando novos dias.
Sei que não se engana a posteridade,
que nessa nau dos insensatos toda perfídia será nominada,
todas as máscaras cairão.
e que a fé e a decência viverão muito além desse holocausto.
Mas até quando, Senhor, combateremos esse combate?
Há uma música sinistra e constante,
martelando, sem limites, em toda parte,
e eu e tantos outros não toleramos essa assuada.
Canto para os homens honrados e para os cultores da beleza
e vos peço perdão por tanto desencanto,
por vos dar meu verso sombrio e indignado,
e esse febril retrato da esperança.
Curitiba, 04 de julho de 2014
Manoel de Andrade, in As palavras no espelho, Escrituras Editora, São Paulo, 2018, pp.249, 250.
Escrevi estes versos em 2014 achando que estávamos chegando ao fundo do poço e, contudo, afundamos ainda mais.
ResponderEliminarA pátria está sendo desmontada, a Ucrânia está em chagas, e um sociopata ronda o fosso do plutônio.
Nosso barco flutua sem rumo nesse medonho temporal. A humanidade respira com o oxigênio da esperança. Um timoneiro, Senhor! Nós te rogamos! Um timoneiro que nos leve a Terra Prometida!
Sempre atual!
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