O futuro já não é o que era.
Bernard
Levin
“Nas vésperas de um novo ano, é costume dizermos coisas pias, palavras cheias de esperança, optimismos vazios de conteúdo, coisas, enfim, que as pessoas gostam de ouvir. Mas parece-me que se impõem, desta vez, palavras menos complacentes.
Temos andado a abusar do
planeta, como quem se suicida sem dar por isso. O capitalismo selvagem, boçal e
criminoso tem-se posto a depredar o planeta, destruindo tudo o que é vital e
poluindo tudo o que é essencial à vida.
Acredita-se hoje muito na
inteligência infalível de quem sabe enriquecer, mas a verdade é que não há
ninguém tão pouco inteligente e tão pouco sábio como, em geral, o milionário.
Não é preciso grande inteligência, para se enriquecer – basta ter uma boa dose
de falta de escrúpulos – mas é preciso uma enorme sabedoria para que a vida
prevaleça na Terra.
A ideia de que um milionário
é o ideal condutor de nações ou o ideal conselheiro a ter em conta é um dos
preconceitos mais perigosos para a continuação da vida no nosso planeta.
Enriquecer a todo o custo, não olhando às consequências, pode levar-nos
direitinhos ao apocalipse. O homem que insensatamente acumula biliões, sem
olhar ao que isso custa à saúde do planeta, é, frequentemente o maior inimigo
da vida, no futuro. O milionário tem pressa, atropela etapas, porque lhe
interessa o seu paraíso, no curto
período da sua vida, não pensando nas gerações futuras. É um genocida-a-haver.
O milionário é, quase sempre, um idiota perigoso e sem visão: só sabe fazer
aquela coisa pequenina que é ganhar muito dinheiro.
Precisamos, todos, de
encontrar uma visão nova e lúcida e não egoísta, com vista a um futuro
diferente, em que vivamos com mais sabedoria e menos pompa (para alguns). O
grande escritor inglês, G. K. Chesterton, criador desse personagem inesquecível
de candura e perspicácia, que foi o Padre Brown, deixou-nos esta pérola de
sabedoria, que vale bem mais do que um milhão de milionários boçais: “O
objectivo de um ano novo não é termos um ano novo. É termos uma alma nova.”
Se quisermos que o futuro
volte a ter futuro, tenhamos a coragem de mudar radicalmente de vida e de
aprender a andar mais devagar e com mais ponderação. O sábio Buda deixou-nos
uma pequena folha do seu livro de sabedoria, quando disse: “Não importa o
quanto tu vás devagar, desde que não pares.” Não estar parado é uma virtude.
Desatar a correr, atropelando tudo no caminho, é um crime."
Dezembro de 2020
Eugénio Lisboa, em Crónica inédita que nos apraz muito publicar e de quem ficamos felizes devedores .
UMA BELA E REFLEXIVA CARTA DO ESCRITOR E ENG.EUGÉNIO LISBOA QUE NOS IRÁ ENCHER DE ESPERANÇA O NOVO ANO DE 2021!...
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