" Antes de decidir escrever este livro sobre os meus vinte e cinco anos com Gertrude Stein, dizia muitas vezes que ia escrever " As esposas de Génios a quem fiz companhia". Fiz companhia a tantas. Fiz companhia a esposas que não eram esposas, de génios que eram verdadeiros génios. Fiz companhia a esposas de verdade , de génios que não eram verdadeiros génios. Fiz companhia a esposas de génio, de quase génios, de pretensos génios, ou seja fiz companhia muitas vezes e durante muito tempo, a diversas esposas e a esposas de diversos génios.
(...) Fernande , que então vivia com Picasso e já estava com ele havia muito tempo, isto é, tinham ambos vinte e quatro anos mas estavam juntos havia muito tempo, foi a primeira esposa de um génio a quem fiz companhia e não era nada divertida. Falámos de chapéus. Fernande tinha dois assuntos, chapéus e perfumes. Nesse primeiro dia falámos de chapéus. Ela gostava de chapéus, tinha a verdadeira sensibilidade francesa por um chapéu, se ele não provocasse qualquer dichote de um homem na rua, é porque não era um sucesso. Mais tarde, uma vez eu e ela seguíamos juntas por Montmartre. Ela levava um grande chapéu amarelo, e eu um azul, muito mais pequeno. Enquanto caminhávamos, um operário parou e exclamou, ali vão o Sol e a Lua a brilhar em conjunto. Ah, disse-me Fernande com um sorriso radiante, como vê, os nossos chapéus são um sucesso."
Alice Toklas, in "Autobiografia de Gertrude Stein", Relógio D'Água Editores, Setembro 2017 , pp. 22,23
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