Hoje é o dia da minha neta Charlotte. Faz seis anos. É a menina da família. Até ela nascer, movia-me num mundo de homens: dois filhos e três netos. Nunca me incomodei com essa circunstância. Creio, até, que tenho um lado muito compatível com o género masculino. Sempre tive grandes e fiéis amigos e excelentes alunos, todos eles homens. Manter um bom debate com homens inteligentes que saibam combater, em paridade, apenas com argumentos válidos, foi e continua a ser um excelente desafio. A sobranceria nunca a encarei como masculina, mas antes própria dos néscios de qualquer sexo.
Mas a Charlotte chegou e foi um raiar
de luz. Linda e rabina, veio desassossegar a
organização estabelecida pelos rapazes. De princípio, acharam-lhe graça até que
a irrequietude de menina começou a exasperá-los. E assim se têm passado os dias
entre eles: da paz carinhosa à guerra declarada.
Esperta e uma
excelente negociadora, sabe fazer uma oportuna trégua a
fim de reaver o estatuto de neta e prima única.
Comigo, o milagre aconteceu. A menina
que nunca me fez falta , chegou sem instruções e com adjectivos novos que me
cativaram ao primeiro olhar. Obrigou-me a procurar adornos, vestidos e todo um
complemento de objectos que jamais comprara para a prole que me compunha. Nos
primeiros tempos, foi um esbanjamento a toda a linha. Creio que adquiri tudo
aquilo que nunca pude comprar e que enchia as montras das lojas infantis.Desde
os vestidos de diversos tamanhos e feitios, às blusas e saias, aos laçarotes e
sapatinhos de verniz, nada foi ficando para trás. A Charlotte fez emergir a
minha veia consumista que desconhecia. Ainda hoje me perco, quando vou às
compras para ela ou com ela.
Nem sei se sou uma avó vaidosa ,
daquelas que contribuíram para o célebre cliché de avó. Não me
interessa. A Charlotte é loirinha, de olhos azuis como o firmamento, em dia de
muita luminosidade. Branquinha e harmoniosa, tem os gestos dóceis
e elegantes que as lições de ballet lhe acentuaram.
Quando se zanga ou lança o lado mais incontrolado, grita, corre e esmurra se
necessário. Pedala, nada, patina e sobe às árvores com uma destreza notável.
Concorre com os primos, em qualquer situação. É, porém, a menina que
veio alterar a paz masculina. É a minha única menina.
E isso trouxe-me uma felicidade
indizível.
Parabéns para a Charlotte e para os avós babados.
ResponderEliminarQuerida amiga Maria José, está carta é o major elogio que se pode fazer a uma neta! Parabéns Charlotte!
ResponderEliminarParabéns à Charlotte, que ainda não conheço. Comigo é ao contrário, 5 netas e um neto. Beijinhos para a Charlotte.
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