26 perguntas a Luis Fernando
Verissimo: "Para um ateu, até que recorri com frequência surpreendente à
Bíblia".
Entrevista realizada pelo jornal literário rascunho
"Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de Setembro de 1936. Aos 16 anos, mudou-se para os Estados Unidos. Lá, aprendeu a tocar saxofone, hábito cultivado até hoje no grupo Jazz 6. Antes de dedicar-se exclusivamente à literatura trabalhou como revisor e tradutor. É considerado um dos maiores cronistas brasileiros. Autor do clássico Comédias da vida privada. As suas crónicas são publicadas semanalmente em diversos jornais brasileiros. Vive em Porto Alegre.
"Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, em 26 de Setembro de 1936. Aos 16 anos, mudou-se para os Estados Unidos. Lá, aprendeu a tocar saxofone, hábito cultivado até hoje no grupo Jazz 6. Antes de dedicar-se exclusivamente à literatura trabalhou como revisor e tradutor. É considerado um dos maiores cronistas brasileiros. Autor do clássico Comédias da vida privada. As suas crónicas são publicadas semanalmente em diversos jornais brasileiros. Vive em Porto Alegre.
• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Eu não queria. Não tinha a menor intenção de ser escritor e, até os 30 anos, nunca tinha escrito nada, salvo algumas traduções do inglês. Comecei a escrever quando entrei no jornal.
Eu não queria. Não tinha a menor intenção de ser escritor e, até os 30 anos, nunca tinha escrito nada, salvo algumas traduções do inglês. Comecei a escrever quando entrei no jornal.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Tenho mania de entrar em livraria. Não precisa nem ser para comprar livros.
Tenho mania de entrar em livraria. Não precisa nem ser para comprar livros.
• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Leio os jornais diários e recebo publicações de fora, como a New Yorker, a Nation e a New York Review of Books.
Leio os jornais diários e recebo publicações de fora, como a New Yorker, a Nation e a New York Review of Books.
• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?Algo o mais longe da realidade brasileira possível. Talvez Polyana.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Não ter prazo de entrega. O paraíso para qualquer jornalista.
Não ter prazo de entrega. O paraíso para qualquer jornalista.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Tempo, tempo, tempo e boa iluminação.
Tempo, tempo, tempo e boa iluminação.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quando se cumpre o prazo de entrega para o jornal sem ter precisado escrever muita bobagem, porque é mais rápida.
Quando se cumpre o prazo de entrega para o jornal sem ter precisado escrever muita bobagem, porque é mais rápida.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
A falta de assunto. O famoso “branco”, que pode ocorrer a qualquer momento e a qualquer um.
A falta de assunto. O famoso “branco”, que pode ocorrer a qualquer momento e a qualquer um.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Eu frequento pouco o meio literário. Mas acho que padecemos da falta de uma boa crítica.
Eu frequento pouco o meio literário. Mas acho que padecemos da falta de uma boa crítica.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.O Ernani Sso, de Porto Alegre.
• Um livro imprescindível e um descartável.
Imprescindível, O grande Gatsby. Descartáveis, são tantos, inclusive alguns do próprio Fitzgerald.
Imprescindível, O grande Gatsby. Descartáveis, são tantos, inclusive alguns do próprio Fitzgerald.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
A falsa profundidade, que muitas vezes é um mau disfarce do superficial.
A falsa profundidade, que muitas vezes é um mau disfarce do superficial.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Sei lá. O mundo da moda, provavelmente.
Sei lá. O mundo da moda, provavelmente.
• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Para um ateu, até que recorri com frequência surpreendente à Bíblia.
Para um ateu, até que recorri com frequência surpreendente à Bíblia.
• Quando a inspiração não vem…
Chuta-se. Vale tudo para cumprir o maldito prazo.
Chuta-se. Vale tudo para cumprir o maldito prazo.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
O dramaturgo inglês Alan Bennet.
O dramaturgo inglês Alan Bennet.
• O que é um bom leitor?
O leitor sempre disposto a gostar.
O leitor sempre disposto a gostar.
• O que te dá medo?
A loucura dos outros, porque a minha eu controlo.
A loucura dos outros, porque a minha eu controlo.
• O que te faz feliz?Minha casa e minha gente.
• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?Eu costumo descobrir o que penso das coisas no acto de escrever, o que significa que sempre começo pela dúvida.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Ser claro e, se possível, não chatear.
Ser claro e, se possível, não chatear.
• A literatura tem alguma obrigação?
“Obrigação” dá a ideia de ordem e compromisso, e acho que a literatura deve ser o oposto disso.
“Obrigação” dá a ideia de ordem e compromisso, e acho que a literatura deve ser o oposto disso.
• Qual o limite da ficção?
O ponto final. Até o ponto final, cabe tudo.
O ponto final. Até o ponto final, cabe tudo.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Pensando bem…Ninguém. Triste, né?
Pensando bem…Ninguém. Triste, né?
• O que você espera da eternidade?
Ouvi dizer que a vida depois da morte é tão chata que só parece uma eternidade. Mas me serve."
Ouvi dizer que a vida depois da morte é tão chata que só parece uma eternidade. Mas me serve."
Entrevista publicada no jornal literário brasileiro "rascunho", nº 192
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