Nasci em Lourenço Marques , mas
passei a maior parte da minha infância nas Caldas de Monchique, termas a 250
metros de altitude , no vale da serra de
Monchique (Algarve), apenas a 20
quilómetros da Praia da Rocha e a 290
quilómetros de Lisboa.
São estas as palavras com que Cândida
Ventura inicia o primeiro capítulo do livro O “socialismo” que eu vivi . Cândida Ventura nasceu a 30 de Junho de 1918.
É dia de a evocar. Faria 98 anos.
Cândida amava a vida. Saudar um novo ano
era um acto de celebração que se reiterava nessa data. Um dia festivo que reunia
um círculo de amigos que, por ela, tinha sido tocado. Havia, nesse dia , um
sorriso que iluminava mais rasgadamente os olhos desta figura relevante da
nossa história . Sim da história da democracia
portuguesa. Cândida Ventura foi dos mais importantes e notáveis combatentes ao regime autoritário que dominou Portugal, durante quatro décadas do século XX. Abdicou de uma
vida promissora em vários domínios para
passar a uma vida em clandestinidade, na defesa de uma ideologia que prometia cortar as
assimetrias sociais e as penosas restrições
da Liberdade. Passou a ser o André. O nome esboroou-se entre os preceitos
preventivos do Partido Comunista.
Cândida despojara-se de uma identidade. Foi
André, Catarina (Catherine na Checoslováquia) e altri. Quando readquiriu o seu verdadeiro nome , o som das silabas que
o compunham eram notas de uma música adormecida.
Cândida era uma lutadora. Uma
mulher que não se perdeu entre o desencanto e as agruras de quem descobriu que nem sempre a
ideologia partidária é aquela que se anuncia. Soube descobrir o caminho e
percorrê-lo com dignidade, com verdade, apregoando os princípios que alicerçam a construção de um verdadeiro socialismo, no perigo sempre
iminente de perda da sua própria liberdade.
Cândida viveu longamente. Impregnava-a
uma força que contagiava quem dela se aproximasse. Era a própria seiva que
alimenta a vida. Tudo lhe interessava. Lia os jornais de todo o mundo. Escrevia,
devorava livros …. compunha desafios futuros. Embrenhava-se em diferentes acções
humanitárias. Participava em protestos, colóquios, conferências e ensinava
todos aqueles que queriam aprender . Apesar dos seus noventa anos, Cândida mantinha
uma energia permanente.
E era uma mulher formosa e admirável .Tinha um sorriso largo. Peculiar. Sabia
cativar-nos.
Era um ser de enorme verticalidade, de uma honradez singular que soube calar os grandes segredos que nela
viviam e que poderiam fazer acender os holofotes sobre o Partido a que aderiu
em acto de fé , em 1936.
Cândida tem lugar no Panteão de todos
nós. Com ela conjuga-se a Liberdade, a Justiça, a Fraternidade.
À
Cândida a nossa admiração e a contínua saudade da sua alegria , da sua
presença, do seu afecto.
Parabéns, Cândida.
Homenagem merecida!
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