A imagem ainda dói. Um barco apinhado de gente inclina-se. Os passageiros caem no mar, qual ramo partido de uma árvore fustigada por um vento inesperado. E diante dos olhos, nos écrans das televisões, desaparecem nas águas centenas de pessoas que vinham apenas naquele barco. É real. Não é uma ilusão de uma imagem montada. Pessoas a serem engolidas pelas águas mansas do Mediterrâneo. Aconteceu o mês passado. Aquele era talvez o barco maior , com mais refugiados que naufragou. Todos os dias há relatos de mortes, de perdas de vida. Aquelas esmagaram todos os écrans. Enchiam de choque e de repúdio. Como foi possível encher um barco com tanta gente? Como foi possível prometer um lugar ao sol após uma travessia tempestuosa, na precariedade de um barco velho sem condições? Como foi possível acreditar que há uma terra prometida para lá do inferno?
E há quem engane todos os dias e há quem acredite e tente alcançar o falso paraíso em cada dia deste nosso cruel tempo. O mundo é cada vez mais desigual e injusto.O homem teima em mantê-lo cruel e a povoá-lo de desespero. É assim há alguns anos e essa tragédia aumenta diariamente.
Rokia Traoré foi embaixatriz dos refugiados. Ouçamos o que nos conta de 2014. Passaram dois anos e o mundo não soube estancar tanta guerra , tanta mortandade.
Rokia Traoré: Né So - Home
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