segunda-feira, 20 de abril de 2015

Da Praia de Santiago, Província do Bengo ( Angola) II

O pregão da avó Ximinha
É mesmo como os seus panos,
Já não tem a cor berrante 
Que tinha nos outros anos.

Avó  Xima está velhinha
Mas de manhã, manhãzinha,
Pede licença ao reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia...
Viriato da Cruz ( poeta angolano) , in "Poemas", Clássicos da Literatura Angolana,Grecima, Luanda 2014
A Praia  de Santiago , a norte do  Cacuaco, na Província do Bengo (Angola),  é um singular mercado de peixe. Colorido, vivo, autêntico, pitoresco,  apresenta-se em insólito espectáculo onde a arte da pesca se mistura  com a arte do comércio no seu laborar mais primevo e artesanal. Não há lota. Não há intermediários. Não há revenda ou taxas .  Se um barco aparece , uma infindável multidão  invade  o mar e rodeia o barco, fazendo-o desaparecer do nosso horizonte até esgotar o peixe e saciar toda aquela imensa clientela. Com as quitandas carregadas de peixe, as quitandeiras sentam-se na areia e entregam-se, de imediato, ao velho negócio  da venda. Disciplinadas e melódicas apregoam louvores aos respectivos produtos  , lançando a quem passa sorrisos prometedores  de boas e frescas compras.
Resistir a quem assim  recebe é um acto impossível  e um imperdoável erro. Na Praia de Santiago, o areal é o reino de quem vive e gosta de peixe. Os banhistas  são  as crianças dos homens e  das mulheres que vivem do Mar. Mas a Praia de Santiago acolhe-nos com a simplicidade e a gentileza  de um povo que se apoia nos ritos  iniciáticos e nos valores ancestrais.
















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