As pessoas devem ser o centro dos acontecimentos
Póvoa de Varzim, 26.02.2015
"A Conferência de Abertura
do 16º Correntes d’Escritas, esta quinta-feira, dia 26, às 15h00, no
Cine-Teatro Garrett, reuniu uma plateia atenta para ouvir a resposta à pergunta
provocatória lançada a Guilherme d’Oliveira Martins, presidente do CNC (Centro Nacional
de Cultura) e do TC (Tribunal De Contas): “Quem tem medo da Cultura?”
O convidado do Correntes
referiu-se ao medo da cultura como “conhecimento, como transformação da
natureza, como letras, artes, ideias, como educação e ciência…” e, embora possa
parecer estranho trazer a economia para esta conversa, o certo é que,
“etimologicamente, não podemos esquecer que a «regra da casa», que vem do grego
oikos e nomos, só tem sentido se puser as pessoas no centro dos acontecimentos
e se entendermos que nem tudo tem preço, mas que tudo tem valor, até porque o
que tem mais valor é o que não tem preço. Eis porque a economia humana tem a
ver com gente de carne e osso, com a exigência de garantir que ninguém nos seja
indiferente. A economia é, pois, para aqui bem chamada para nos dizer que a
cultura começa exactamente quando as pessoas têm de cuidar do valor de tudo o
que as rodeia, muito para além do preço, que não compra nem a honra nem a
dignidade que são matéria-prima da cultura. (…) Como disse T.S. Eliot num ensaio
célebre sobre a definição da cultura: «Tal como ‘democracia’, a palavra cultura
precisa não só de ser definida, mas também ilustrada, cada vez que a
empregamos”.
É através da cultura que
somos levados a perceber que a “identidade e a diferença se completam, a tal
ponto que, fechando-se uma cultura sobre si mesma, torna-se depressiva e
decadente, ficando cega à memória e ao entendimento dos outros. Assim, quem tem
medo da cultura é quem baixa os braços perante a força avassaladora do
imediato, da simplificação e da indiferença. E quem se deixa vencer por esse
medo atávico, verifica para mal dos seus pecados que, se tudo começa na
cultura, segue rapidamente para a economia humana, porque o que verdadeiramente
importa é saber se a vida das pessoas é fim ou é meio”.
E prosseguindo a reflexão
afirma Guilherme d’Oliveira Martins “«Os cérebros mal preparados vergam sob a
diversidade de conhecimentos – e os quadros da cultura, à força de se
alargarem, quebram-se». Marguerite Yourcenar em «Diagnóstico da Europa» (1929)
toca assim no tema difícil do empobrecimento da cultura e das humanidades”.
O conferencista defendeu
que é preciso um “grito de alerta” e avisou que “a ameaça à cultura vem da
facilidade, do autocomprazimento e da mediocridade”.
Em conclusão, Oliveira Martins
refere-se a um património cultural não retrospectivo, “é passado, presente e
futuro, é material e imaterial, são pedras mortas e pedras vivas, é um dever, é
memória e é criação presente, não pode ser assunto do Estado burocrático, mas
da República moderna, livre e democrática, centrada nos cidadãos, como nos
ensinou António Sérgio há cem anos, nas páginas de «A Águia», na sua
inolvidável «Educação Cívica». Eis porque devemos dar à sociedade civil um
papel mais activo nos valores, se soubermos contrapor uma ética de cidadania,
aliada à qualidade na educação, formação, ciência e cultura. A defesa das
humanidades tem de corresponder à recusa da facilidade e do novo-riquismo e ao
apelo à vontade e à criação. Como poderemos defender a cultura que nos foi legada
sem mobilização dos cidadãos e sem democratização do Estado? Medo da cultura é,
afinal, medo da liberdade e da democracia”. CMP
O grande movimento era-nos sempre
margem de olhar um rio.
Ia-se-nos perdendo
ver algum navio
entrar nas águas de tê-lo
alguma vez ouvido.
Ou, se quiserem, havia o movimento.
E, à volta dele, o rio
estava perto de sermos
lugar. Ponto de frio
de onde os amantes sempre
partiram esquecidos.
Fernando Echevarría, in Sobre as Horas
margem de olhar um rio.
Ia-se-nos perdendo
ver algum navio
entrar nas águas de tê-lo
alguma vez ouvido.
Ou, se quiserem, havia o movimento.
E, à volta dele, o rio
estava perto de sermos
lugar. Ponto de frio
de onde os amantes sempre
partiram esquecidos.
Fernando Echevarría, in Sobre as Horas
Fernando
Echevarría ganha prémio em dia de aniversário
«O
poeta Fernando Echevarría venceu o prémio literário Casino da Póvoa com a obra
"Categorias e outras paisagens", editada pela Afrontamento, anunciou
hoje a organização do encontro de escritores de expressão ibérica Correntes
d'Escritas.
Nascido a 26 de Fevereiro de 1929 (sendo nesse dia o seu aniversário),
na localidade espanhola de Cabezón de la Sal, "veio para Portugal ainda
muito novo, tendo cursado Humanidades em Portugal e Filosofia e Teologia em
Espanha", de acordo com a biografia disponível na Infopédia, da Porto
Editora.
Echevarría, que "escreveu sempre em português, só ocasionalmente
nas línguas castelhana e francesa", já antes recebeu distinções como o
grande prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, o prémio
António Ramos Rosa, o prémio Fundação Luís Miguel Nava e o prémio Dom Dinis.
O júri que atribuiu por maioria o grande prémio do 16.º Correntes
d'Escritas foi constituído por Afonso Cruz, Almeida Faria, Ana Paula Tavares,
Maria Flor Pedroso e Valter Hugo Mãe.
Na declaração de voto do prémio, o júri referiu que o livro de Echevarría
"revela um carácter monumental, impressionante pelo seu fôlego".
Na ata, o júri considerou que a obra "constrói uma poética da
lucidez e do rigor", tratando-se de um "monumento à capacidade de
dizer o indizível no limite da palavra".
Durante a cerimónia de anúncio dos premiados deste ano, foi ainda
revelado que o conto infantil ilustrado "Uma Amizade Misteriosa", da
turma 4.º A, do Externato Infantil e Primário "Paraíso dos
Pequeninos", de Lourosa, venceu o prémio Correntes d'Escritas/Porto
Editora 2015.
Adicionalmente, o prémio literário Correntes d'Escritas/Papelaria
Locus, que distingue trabalhos inéditos de jovens entre os 15 e 18 anos, foi
atribuído a Cândida Filipa Oliveira de Sousa, pelo poema "Insone".
Já o prémio Fundação Dr. Luís Rainha, que galardoa textos cuja temática
seja a Póvoa de Varzim, foi dado a João José da Conceição Morgado pelo trabalho
"O Céu do Mar".» DN
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