sexta-feira, 27 de abril de 2012

Numa burocracia, o chefe é o chefe

Os inteligentes construíram o mundo, os estúpidos vivem à grande

Nas « hierarquias de poder » a mesma ordem burocrática que sufoca a criatividade e a originalidade  estabelece a escala dos « méritos pressupostos », da qual não se pode discordar a não ser pondo em causa os próprios alicerces da sociedade. A estrutura hierárquica elimina a necessidade de distinguir os seres humanos na base das suas qualidades, dos seus talentos.
Numa burocracia, o chefe é o chefe, porque ocupa a posição de chefe, e não porque seja o melhor. Pode perfeitamente ser o mais estúpido que o último moço de fretes: isso não quer dizer nada, é ele quem manda – porque ele é o chefe. Os sargentos não são necessariamente mais imbecis que os simples soldados ; mas são os distintivos que lhes enfeitam as mangas ou os ombros que lhes conferem a autoridade de comando.
Os juízos de valor brilham pela mais completa ausência nos sistemas burocráticos, porque a estrutura hierárquica os tornou inúteis e consagrou assim o fim da vantagem constituída pela inteligência.
A imbecilidade está no poder. E o poder não precisa de génio.
Mas trabalha em seu próprio benefício, tende a imprimir  a sua própria imagem no mundo circundante e a multiplicar a estupidez, da qual extrai a sua razão de ser. (…)
Todos os regimes cuidam de sufocar a inteligência, que não só é desnecessária nos termos de seja que forma for de organização, mas constitui, além disso, um factor adverso e, por conseguinte, uma ameaça. As pessoas de bom senso, por exemplo, põem-se interrogações assustadoras, subversivas. Do tipo : « É possível que logo seja este cretino o meu chefe? ». ( Possível e mais que possível ). « Mas não haveria ninguém mais capaz para uma missão tão delicada ? » ( Havia, é quase certo, mas não era isso que interessava ). As ditaduras suprimem a liberdade de pensamento ( e, com frequência, também o pensador ). Em democracia cada cabeça vale um voto, ainda que se trate de uma cabeça oca. Todas as formas de domínio procuram impor a uniformidade dos pensamentos, dos desejos, do mesmo modo que visam massificar os indivíduos e vinculá-los a um modelo comum de imbecilidade.
Tal é a essência do poder. Que resulta das escolhas evolutivas e culturais da nossa espécie. O « homem-massa » da moderna sociedade industrial (  dissuadido de pensar, ensinado a alimentar desejos idênticos aos dos seus semelhantes, porque impostos por sistemas de condicionamento extremamente eficazes ), o homem que se limita a saber desempenhar uma função, é o produto de um processo evolutivo que dura há milénios e se orienta para a repressão da inteligência. Quem diz: « não me agrada , considera : « a evolução confundiu tudo. » será verdade ?

                           Pino Aprile, in “ELOGIO DO IMBECIL“, Edições Dom Quixote

1 comentário:

  1. A cretinice é infinita e apresenta-se sob diversas vestimentas, de gravata, colete, casaco, e de lenço ou saias também. "Modus" imparável na sociedade que temos, na sociedade em que vivemos... Inunda tudo, submerge-nos, asfixia-nos!... Não existe "cura" para os estúpidos, ou melhor para a estupidez. E quando ela acenta arraiais nas cabeças de determinados "chefes", então agiganta-se de uma maneira irreversível, prejudicando não só os própios subaternos deles, mas todos, todos!... Aos imbecis, Pino Aprile chega-lhes forte!... E bem!

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