"A pessoa é um fim em si mesmo e não o final de si mesma, uma realidade ontológica digna ,um fim em si e nunca um meio.
O ser humano é pessoa integral: corpo com dimensão material e dimensão espiritual, que ocupa tempo e espaço limitado. Pode afirmar-se que, simultaneamente, a pessoa tem um corpo e é um corpo; sobretudo é um ser corporal. É um corpo vivido, em que “a relação de si passa necessariamente pela relação no outro”. Como o corpo é relacional, já que faz parte da constituição do homem e este tem consciência de si perante si e perante os outros, é-lhe conferida a conotação do homem como ser possuidor de inteligência, memória e vontade. “ Pela inteligência , a pessoa está aberta à universalidade do ser; pela vontade, está aberta à universalidade do bem”.
Para Aristóteles, “ o corpo não é um simples mecanismo mas um ente dotado de sentido, que tem o seu fim e o seu centro de gravidade em si mesmo e que só se compreende a partir de si próprio e da sua função.”É também uma entidade “entre” a consciência e o mundo, marcado pelas coisas que passaram no mundo da consciência; “ É pelo meu corpo que compreendo o outro, assim como é pelo meu corpo que percebo as coisas.” Existe uma totalidade relacional com os outros, com o mundo, com os vários orgãos, todos importantes, que constituem esse corpo.
Para Descartes ( séc.XVII ),o corpo é como que um conjunto do eu corporal com a alma ,localizando-se esta numa parte do corpo que corresponde ao lugar do pensamento e da liberdade. Na era contemporânea , atribuiu-se ao ser humano a noção de unidade , como visão holística, opondo-se à anterior e reducionista divisão em corpo e alma.
O corpo é o elemento intrínseco à existência do ser humano, é a identidade da pessoa e corresponde à sua parte visível. É também expressão de uma realidade vivida, da sua experiência que passa no mundo e pelo mundo, sendo a única para cada ser humano; a sua personalidade e a sua individualidade passam através do corpo. No entanto, o corpo é habitado por uma consciência, sendo esta que o caracteriza como pessoa; é finito, cresce e desenvolve-se de acordo com a experiência que cada um faz de si mesmo, vivido num mundo concreto, envolvido num conjunto de encontros com os outros eus e que é capaz de se referir a si mesmo e de se abrir com os outros. É com ele e através dele que se constrói a sua história ao longo do tempo, que se forma a identificação pessoal desse corpo; é uma dimensão natural do eu e, por ele , o ser humano é mortal. Mesmo depois da morte, o corpo representa a experiência, uma vida que foi vivida, a relação como mundo a que correspondeu esse mesmo corpo. Como ser de relação que é, o homem é pessoa.
Uma das definições mais comuns de pessoa, é a de Boécio, que a denomina como “ substância individual de natureza racional”, isto é, o indivíduo concreto, como ser único e individual.
A palavra pessoa deriva do grego prosôpon, que significa máscara, o que desempenha um papel, que constrói uma personagem. Cada pessoa constrói o seu caminho percorrendo-o, correspondendo a um processo dinâmico de construção da personalidade pelo agir e através da sua relação com o outro. É um ser que comunica sempre com o outro, até mesmo através de uma linguagem a que podemos chamar de não-falante porque o corpo, com a sua expressão comunica sempre , reflectindo para o exterior o seu estado interior.
O homem é um ser natural como todos os outros seres vivos mas, como homem tende para um fim feliz ( para a perfeição), tem uma característica muito própria – é um ser pensante e racional, porque tem uma consciência. O homem tem consciência de si, sabe como actuar para atingir o seu fim e é também essa consciência que o torna distinto de outros seres. A racionalidade e a liberdade são as características mais especificas do ser humano; sabe objectivar e tirar conclusões, enquanto que os outros animais não, necessitando contudo do “outro” para a sua realização e para a sua sobrevivência. Assim, só ele pode conhecer, compreender, prever e modificar o mundo que o rodeia . “ O homem está no mundo , é no mundo que ele se conhece” e, “ devido à sua natureza espiritual e relacional, tem capacidade de conhecer o bem e o mal: de apreciar a superioridade do bem verdadeiro sobre esse bem aparente e enganador que é o mal”
O corpo é o” lugar” e o “meio” do encontro da consciência e do mundo à sua volta. No entanto, o corpo próprio não é apenas cognitivo mas também afectivo; por isso o mundo, isto é, as coisas e os outros que estão perante nós ou abertos a cada um pela sua própria consciência , é sempre um mundo co-determinado pela afectividade e que, enquanto ser, enquanto corpo sujeito, tem necessidades e exige atenção por parte do outro.
Todas as pessoas devem ser tratadas com o respeito e a dignidade moral que todo o ser humano merece, pelo mero facto de ser pessoa – a raiz da dignidade humana advém da realidade de ser considerado como pessoa e não como instrumento." Isabel Renaud
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