quarta-feira, 8 de junho de 2011

Morreu o escritor Jorge Semprún

O escritor e político espanhol Jorge Semprún morreu ontem à noite, às 23h30, em Paris, vítima de doença degenerativa. Semprún, de 87 anos, estava há meses hospitalizado no hospital parisiense Georges Pompidou. Jorge Semprún sofreu os dramas do século XX: a Guerra Civil Espanhola, a ocupação nazi da Europa, a prisão no campo de concentração de Buchenwald, a militância e dissidência comunista.
Creio que Jorge Semprún viveu não como testemunha mas como protagonista os grandes tumultos históricos do século XX, lutou contra o fascismo, foi militante da resistência e teve a experiência atroz dos campos de concentração, viveu a ilusão comunista e as grandes fracturas do comunismo quando se revelaram os campos de concentração, Gulag, participou na tentativa da experiência euro comunista e foi purgado pelo comunismo estalinista”. É assim que, na edição de hoje do diário “El País”, Mário Vargas Llosa sintetiza o percurso vital de Semprún. Experiências no limite da vida que estão na origem do que alguns críticos definem como “literatura de memória”. A sua escrita e os relatos de uma vida.
Nascido em Madrid, em 10 de Dezembro de 1923, neto do político conservador António Maura, presidente do Governo sob o reinado de Alfonso XIII, quando eclodiu a Guerra Civil Espanhola, Jorge Semprún e os irmãos foram para Haia onde o seu pai era embaixador da República Espanhola junto dos Países Baixos. Tempos narrados em “Adeus, luz de verões”. Após a vitória de Francisco Franco, a família instala-se em Paris. Com a ocupação nazi da Europa, Semprún adere à resistência e, em 1942, integra o PCE. Pouco tempo depois, é preso e deportado para o campo de concentração de Buchenwald, onde permanece dois anos até ao fim da II Guerra Mundial.
“Desapareceram as testemunhas do extermínio, ainda há mais velhos que eu, mas não são escritores”, dizia, em 2000, numa entrevista ao “El País”. E recordava. O odor a carne queimada. “Esse cheiro vai-se comigo como se foi com os outros”, dizia. Tentou que assim não fosse. Escreveu. Entre outros, “Viverei com o seu nome”. Em 11 de Abril do ano passado, no 65º aniversário da libertação do campo de Buchenwald, fez a última visita ao campo de onde saiu vivo por milagre. Ou astúcia. Em vez de declarar ser estudante, afirmou ser estucador.
Em 1953, acede ao comité central do PCE. É Federico Sanchez, o seu nome de código no partido. Vive temporadas na capital espanhola na dura clandestinidade. Onze anos depois, em 1964, juntamente com Fernando Claudin, é expulso por discrepância com a linha oficial do PCE de Dolores Ibárruri, “La Passionária”, e Santiago Carrillo. Mais tarde, a literatura alivia-lhe o desencanto, quando escreve “Autobiografia de Federico Sanchez”.
“A Espanha foi pouco generosa com Semprún”, admitia, ontem, César António Molina, antigo ministro da Cultura de Rodriguez Zapatero. E assim foi. A heterodoxia de Semprún, o seu cosmopolitismo, sempre suscitou reparos na esquerda espanhola. Como os seus êxitos. E o seu empenhamento. Foi guionista de Alain Resnais, escreveu o guião de “Z” para Costa Gravas, trabalhou com Joseph Losey.
Houve um período de “namoro” com a política espanhola e o seu país. Entre 1988 e 91, foi ministro da Cultura na segunda legislatura de Felipe González. Quem o convidou para o cargo foi Javier Solana, então ministro daquela pasta. Viveu de perto os primeiros problemas de convivência do “felipismo”. E, como sempre, escreveu. “Federico Sanchez despede-se”, é o relato desses anos. In “ Público”
EL PAÍS
Muere Jorge Semprún, una memoria del siglo XX
De niño del exilio a ministro de Cultura, el autor de 'La escritura o la vida' fue deportado al campo de concentración de Buchenwald y expulsado del partido comunista por disidente .
(…)La Europa en que creía Jorge Semprún empezó a construirse, lo dijo él mismo, en la diversidad de los resistentes deportados a Buchenwald, la cara oscura de la Weimar de Goethe, a tan solo unos pasos. El 11 de abril de 2010, el escritor acudió allí por última vez para pronunciar un discurso. Se celebraba el 65º aniversario de la liberación del campo y días antes publicó en este diario un artículo en el que reconocía con lucidez extrema, pero con furia, que se acercaba al final: "Por última vez, pues, el 11 de abril, ni resignado a morir ni angustiado por la muerte sino furioso, extraordinariamente irritado por la idea de que pronto ya no estaré aquí, en medio de la belleza del mundo o, por el contrario, en su grisácea insipidez -que en este caso concreto son la misma cosa-, por última vez, diré lo que tenga que decir".

LE MONDE
L'écrivain espagnol Jorge Semprun est mort
L'écrivain et homme politique espagnol Jorge Semprun est mort à Paris à l'âge de 87 ans, a-t-on appris auprès de son petit-fils Thomas Landman.
Résistant, déporté, dirigeant clandestin du Parti communiste espagnol (PCE), écrivain, ministre, Jorge Semprun a été le témoin des grandes déchirures politiques du XXe siècle, dont il a tiré une œuvre marquante en littérature et au cinéma.
Jorge Semprun naît le 10 décembre 1923 à Madrid dans une famille de la haute bourgeoisie castillane aux valeurs républicaines profondément ancrées. De sa mère, morte quand il avait neuf ans, il évoquait l'image d'une femme brandissant le drapeau républicain à sa fenêtre en 1931, à l'abdication du roi.
Son père, avocat et diplomate républicain, restera pour lui un "exemple moral", qui "a choisi l'exil pour être fidèle à ses idées". Il quitte précipitamment l'Espagne avec ses sept enfants en 1936, quand éclate la guerre civile. D'abord pour les Pays-Bas, puis pour la France en 1939.
"ROUGE ESPAGNOL"
A Paris, Jorge Semprun, brillant étudiant, plonge dans "l'histoire, un continent confus où s'engager corps et âme, quitte à s'y fondre". Le communisme d'abord. En mars 1939, la chute de Madrid tombée aux mains des franquistes lui insuffle la conviction d'être à tout jamais "rouge espagnol".
Avec la seconde guerre mondiale, il s'engage dans un réseau de résistance dépendant de Londres. Mais, en septembre 1943, il est arrêté par la Gestapo, à l'âge de 19 ans, et déporté à Buchenwald. Les communistes se sont infiltrés dans l'administration interne du camp et Semprun s'y voit confier la répartition des détenus dans les différents commandos de travail.
A la libération du camp, en avril 1945, il choisit "l'amnésie délibérée pour survivre". Il rompra ce silence en 1963 avec son premier récit, Le Grand Voyage, et reviendra notamment sur cette expérience douloureuse en 1994, dans L'Ecriture ou la vie.
Après quelques années comme traducteur à l'Unesco, il repart pour l'Espagne, où il coordonne l'action clandestine du Parti communiste espagnol sous le pseudonyme de Federico Sanchez. En 1964, le chef du PCE Santiago Carillo l'exclut du parti pour "déviationnisme".
"ENTRER EN LITTÉRATURE"
Contraint une nouvelle fois à l'exil, coupé de l'activisme politique qu'il considère comme "la création la plus pure", Jorge Semprun choisit alors d'"entrer en littérature", compagne de ses années de jeunesse parisienne et de Buchenwald, où il fuyait la promiscuité en se plongeant dans la poésie.
En 1985, invité de l'émission "Apostrophes" de Bernard Pivot, il expliquait pourquoi, lui, espagnol, avait fait le choix d'écrire en français.
Ses œuvres sont une réflexion sur sa vie "remplie par le bruit et la fureur du siècle", comme La Deuxième Mort de Ramon Mercader, prix Femina en 1969.
Semprun se fait aussi connaître comme scénariste et dialoguiste de films comme La Guerre est finie (1966) ou Stavisky (1974) d'Alain Resnais. Il est surtout le complice d'Yves Montand et du réalisateur Costa Gavras, qui donne un nouveau souffle au cinéma politique avec Z (1968), sur la dictature des colonels grecs, ou L'Aveu (1970), sur les procès staliniens.
Membre du jury Goncourt à partir de 1996, Jorge Semprun est l'auteur d'Autobiographie de Federico Sanchez (1978), sur son parcours de militant déçu, Netchaiev est de retour (1987) ou Vingt ans et un jour (2004). En 1988, le chef du gouvernement espagnol Felipe Gonzalez lui offre le ministère de la culture, mais l'ancien militant joue les trouble-fêtes, critique certains membres du gouvernement et quitte ses fonctions en 1991.L

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