domingo, 26 de dezembro de 2010

Nascer/viver sem afectos

Cerca  de cinquenta (50) crianças foram abandonadas pelas mães à nascença nas maternidades portuguesas durante este ano 2010. Muitas outras foram encontradas em sacos de lixo, em caixotes, ao relento pelo país. Aventar as razões que levaram estas mães a este acto é especular sobre sofrimento, pobreza ou sentimentos que não se contabilizam. No entanto, reflectir sobre o estado da justiça social e da protecção aos desamparados é necessariamente uma obrigação ancestral. A exclusão e a perda de afectos que marca os sem-abrigo cuja imagem se ergue quase banalizada por  tantas  reportagens televisivas é também uma deriva desta incapacidade que o Homem tem para com o outro ao consumir-se numa existência fútil de banalidades e de insensibilidade social.
As crianças são sempre as maiores vítimas. O elo mais fraco é a vulnerabilidade disponível na cadeia dos desprotegidos.
Os contos que Hans Christian Andersen escreveu para crianças retratam com actualidade situações que nos confrangem e que denunciam  a  perda de sentido de muitos rituais que marginalizaram  a verdadeira essência do ser humano: o valor dos afectos.
" A menina dos fósforos" é um conto fabulosamente trágico que evidencia a fatalidade de ser pobre num mundo consumista e confortavelmente egoísta. A dimensão feérica e fantástica dos fósforos eleva-nos para a transcendência do sonho materializado pelas referências subjectivas dos afectos que distinguem  cada ser humano.
Esta versão videográfica,  montada em desenho animado,  apresenta virtuosamente o conto escrito por  Andersen  no Sec. XIX,  há quase 150 anos. A excelente banda sonora que  a acompanha merece um visionamento.

 

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