domingo, 17 de outubro de 2021

Ao Domingo Há Música





Três coisas são necessárias para a salvação do homem: saber o que deve crer, saber o que deve desejar, saber o que deve fazer.
 São Tomás de Aquino

Cada qual sabe amar a seu modo. O modo pouco importa. O essencial é que saiba amar.

Machado de Assis

Nasci em Agosto. Num dia que apenas sei de lembranças antigas , de histórias das minhas tias e, sobretudo, da alegria da minha mãe. O meu pai , isolado e assertivo, referia que me trocou as voltas porque resolvi nascer na véspera da maior festa da cidade. E como o fiz quase à meia-noite, decidiu registar-me nesse dia maior. Tive, assim, desde logo um patrono.

A silly season é o meu território . Agosto é nela o último e quase único  mês. Um mês  que celebra tudo menos a tal intelectualidade dos pedantes da Cultura. Um mês sem "ismos", a não ser aquele  dos falsos snobismos. Talvez seja por isso, que me abri para o mundo de olhos abertos sem comando e preconceito. Apaixonei-me pela beleza da Natureza frente a um amanhecer radioso ou  a um imponente  pôr-do-sol; com delícia,  naveguei   nas ondas profundas de um mar agitado ; com requebro amoroso,  banhei-me no rebento cadenciado das águas mornas de qualquer praia e continuo a  estarrecer-me com a paz de um azul horizonte marinho. Nunca me interessei por saber ,  se louvar a magnificência da Natureza é um cliché, uma falta maior à criatividade intelectual. Nunca. Nem pretendo fazê-lo. Sou o que sou.

Mas não fico por aqui, sem falar ao que vim  , neste domingo outonal. Sim outonal, embora nem saiba ainda  se o chão está pejado dos  milhares de  folhas que sempre constituem uma das  mais espantosas paletas naturais ,  que nem a mais perfeita mão humana é capaz de reproduzir. O que sei e quero realçar é a minha paixão pela música. Creio que , de domingo em domingo, a apresento com fervor. Talvez já tenha repetido palavras que sempre me ocorrem quando os sons  se apresentam. Talvez o ecletismo que reveste essa apresentação seja um dos meus maiores tesouros. Amar a Música porque é apenas bela. E talvez nem sempre seja acolhida com igual encanto por quem a recebe. Mas o amor é sempre diverso. Ama-se porque nos enamoramos , nos encantamos porque  o objecto desse amor é uma revelação constante. E quando nunca se extingue,  o amor é para uma vida. É assim a Música para mim. Um incessante e virtuoso amor.

Para este domingo, fica a sempre bela e quase etérea composição Piano Concerto No.2 2nd Movement,  do russo Sergei Vasilievich Rachmaninoff (1 de Abril de de 1873 - 24 de Março de 1943), interpretada ao piano por Khatia Buniatishvili, acompanhada pela Filarmonica Teatro Regio Torino, sob a direcção do Maestro Gianandrea Noseda. 
Por mais que se repita a audição desta magnífica peça , chega sempre embebida num fascínio acerado.

3 comentários:

  1. Que bela reflexão desta editoria, um requinte para a alma, seguida pela suave sonoridade do n. 2, de Rachmaninoff, um dos meus concertos preferidos. Obrigado do por estes saborosos acordes do meu melhor cardápio auditivo.

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  2. O comentário acima é de Manoel de Andrade, do Brasil.

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