... tudo isso nos acompanha até a morte e forma como o cerne, o tutano dos ossos da própria alma.
Miguel de Unamuno, Andanzas y Visiones Españolas
Nem sempre os dias são solares, luminosos. Nem sempre os olhos permitem divisar para além da luz que teima em chegar. Há o intervalo entre o que é , o que há e aquilo que se aceita. E é nesse momento que se sente a verdadeira condição humana. Poder ser o que somos, sonhando por vezes o que se poderia ter sido mas se não foi para poder ser o que hoje se é. Miguel de Unamuno disse-o magistralmente, em Andanzas y Visiones Española, quando chegou ao topo da Peña de Francia: Ali em cima, envolto pelo silêncio, sonhava com todos os
que, havendo podido ser, não fui para poder ser o que hoje sou. (...)Ali, no topo, ali sim, se parece a vida um
sonho e um sopro (...) Ali em cima, no cume da Peña de Francia , sentia cair as horas, fio a fio, gota a gota, na eternidade, como a chuva sobre o mar. Melhor do que gota eu diria floco a floco, pois caíam silenciosas, como cai a neve, e brancas. É sobretudo do silêncio o que ali se goza.
Não seremos capitosos nas palavras como o grande Unamuno. Sabemos, porém, quão grandiosa pode ser a música e quantas respostas pode dar para iluminar momentos, dias que compõem a nossa vida.
Hélène Grimaud, em Concerto nº 23 para Piano e Orquestra, 2. Adagio, de Wolfgang Amadeus Mozart, acompanhada pela Chamber Orchestra of the Bavarian Radio , sob a direcção do Maestro Radoslaw Szulc.
Kathia Buniatishvili, em Un Violon sur le Sable , Concerto n°2 , primeira parte, de Sergei Rachmaninov (1873-1943).
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