Atlântico
Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia.
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2014)
Meio-dia
Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo
Parece bater palmas.
Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o mar imenso solitário e antigo
Parece bater palmas.
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2014)
O que é o Mar?
“Mãe, o que é que é o mar, Mãe?” Mar era longe, muito longe dali, espécie duma lagoa enorme, um mundo d´água sem fim, Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava.
“Pois, Mãe, então mar é o que a gente tem saudade?”
Guimarães Rosa (1908-1967)
À beira-Mar
"Tenho a impressão de ter sido uma criança brincando à beira-mar, divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da verdade continua misterioso diante de meus olhos."Isaac Newton (1643-1727)
Canção
– Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
– Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
– O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…
– Chorarei quanto for preciso, /
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
– Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles (1901-1964)
Era o Mar
O vento enchia o Mundo. Mal deixava
lugar para a tremenda voz das ondas.
Mas era o Mar apenas que se ouvia.
Sebastião da Gama (1924-1952)
– Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
– Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
– O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…
– Chorarei quanto for preciso, /
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
– Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles (1901-1964)
Sobre o Mar
"O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar."
Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987)
Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987)
Era o Mar
O vento enchia o Mundo. Mal deixava
lugar para a tremenda voz das ondas.
Mas era o Mar apenas que se ouvia.
Sebastião da Gama (1924-1952)
O pôr do Sol à beira-mar
"Se eu fosse pintor , passava a minha vida a pintar o pôr do Sol à beira-mar. Fazia cem telas, todas variadas, com tintas novas e imprevistas. É um espectáculo extraordinário.
Há-os em farfalhos, com largas pinceladas verdes. Há-os trágicos , quando as nuvens tomam todo o horizonte com um ar de ameaça, e outros doirados e verdes(…).Tardes violetas , neste ar tão carregado de salitre que torna a boca pegajosa e amarga, e o mar violeta e doirado a molhar a areia e os alicerces dos velhos fortes abandonados…
Um poente desgrenhado, com nuvens negras lá no fundo, e uma luz sinistra. Ventania. Estratos monstruosos correm do norte. Sobre o mar fica um laivo esquecido que bóia nas águas – e não quer morrer…
Há na areia uns charcos onde se reflecte o universo –o céu , a luz, o poente. Não bolem e a luz demora-se aí até ao anoitecer. E como o poente é oiro fundido sobre o mar inteiramente verde , que a noite vai empolgar não tarda , os charcos, entre a areia húmida e escura , teimam em guardar a luz concentrada e esquecida.
Em todo o dia , o mar não se viu nitidamente. Névoa esbranquiçada, grandes rolos de poeira e sol misturados , água de que se exala um hálito verde envolvido nas ondas. Por fim, o Sol desceu e um nevoeiro imprevisto entranhou poalha de oiro no mar esverdeado, fantasmagoria e sonho nesta frescura extraordinária.”
"Se eu fosse pintor , passava a minha vida a pintar o pôr do Sol à beira-mar. Fazia cem telas, todas variadas, com tintas novas e imprevistas. É um espectáculo extraordinário.
Há-os em farfalhos, com largas pinceladas verdes. Há-os trágicos , quando as nuvens tomam todo o horizonte com um ar de ameaça, e outros doirados e verdes(…).Tardes violetas , neste ar tão carregado de salitre que torna a boca pegajosa e amarga, e o mar violeta e doirado a molhar a areia e os alicerces dos velhos fortes abandonados…
Um poente desgrenhado, com nuvens negras lá no fundo, e uma luz sinistra. Ventania. Estratos monstruosos correm do norte. Sobre o mar fica um laivo esquecido que bóia nas águas – e não quer morrer…
Há na areia uns charcos onde se reflecte o universo –o céu , a luz, o poente. Não bolem e a luz demora-se aí até ao anoitecer. E como o poente é oiro fundido sobre o mar inteiramente verde , que a noite vai empolgar não tarda , os charcos, entre a areia húmida e escura , teimam em guardar a luz concentrada e esquecida.
Em todo o dia , o mar não se viu nitidamente. Névoa esbranquiçada, grandes rolos de poeira e sol misturados , água de que se exala um hálito verde envolvido nas ondas. Por fim, o Sol desceu e um nevoeiro imprevisto entranhou poalha de oiro no mar esverdeado, fantasmagoria e sonho nesta frescura extraordinária.”
Raul Brandão ( 1867-1930)
Obrigado pela onda que me coube espraiar nesse seleto mar da poesia. Esse mar feito de saudade e de distância nas areias pandêmicas do planalto.
ResponderEliminarBanho-me contigo nessa salgada postagem, esperando o mergulho do amanhã e a linha do horizonte flutuando sobre as águas e tatuada em meu olhar.
Manoel de Andrade
Mais poesia neste comentário. O nosso agradecimento.
ResponderEliminarQuem o canta conhece-lhe a sedução. Haverá sempre um novo poema.