sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Há 108 anos

                                                   
                                                           5 de Outubro de 1910
                                                                   
" Toda a noite ouço o estampido brutal do canhão, que por vezes chega ao auge, para depois cair sobre a cidade um silêncio mortal, um silêncio pior.  Que se passa? Distingo o assobio das granadas, e de quando em quando um despedaçar de beiral que cai à rua.  E isto dura até de madrugada. De manhã as tropas do Rossio rendem-se e os marinheiros desembarcam na Alfândega. Às oito e  meia está proclamada a república. Passa aqui na rua de S. Mamede um resto de caçadores 5, soldados exaustos, entre populares que os aclamam,
O rei fugiu. Um genro do Cayola, oficial de infantaria 16, contou ao  Maximiliano: acompanharam-no no parque das Necessidades o Sabugosa,  o  Faial, o Tarouca e o Ravara. Um deles dizia-lhes: - Vossa Majestade  já fez o que tinha de fazer. - O rei estava lívido e num gesto maquinal tirava e metia os anéis nos dedos.
Um farmacêutico da Ericeira assegura que o viu chegar a Mafra  dentro do automóvel. O D. Afonso embarcou no Estoril mostrando, aos que  o acompanharem até ao fim, uma carteira com duzentos mil réis. - É o que levo... - A D. Amélia partiu também de  Sintra para Mafra. Tinha-se espalhado entre o povo que fora a rainha quem mandara assassinar o Dr. Bombarda. Se a apanham matam-na."
Raul Brandão, in  Memórias - Volume II, Quetzal Editores, p.251 

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